TEMPO DE BOI-DE-REIS ou
ERA UMA VEZ UM MATEUS CHAMADO JOCA-CHICO
E tanta gente se juntava ali na rua do Cruzeiro ou do Arame,
não importava a rua nem o lugar, só sei que toda Várzea se reunia.
O ar era impregnado do cheiro do querosene
das lamparinas e tudo se misturava ao aroma de pipocas
e aos estouros dos foguetes e foguetões,
das bombinhas, traques e rojões.
E Várzea toda se agitava ao toque dos pandeiros,
triângulos e zabumbas. Eh, boi!
Os candeeiros circulavam acesos de mão em mão,
rumo ao oitão da igreja e partiam para o centro.
E vinha gente de todo lugar, de todos os cantos
e das redondezas, do Itapacurá aos Seixos
das Quatro Bocas à rua Grande...
E era uma alegria só estampada no rosto,
na cara daquela gente tão simples,
que era a vertente da harmonia.
E no meio de tudo estava o boi, a figura central do auto,
que geralmente era feito com uma armação de cipó coberta de veludo e chita, e embaixo da armação: um homem.
um homem que vestia o boi - um homem vestido na armação
para dar movimento ao boi. E a cabeça podia ser feita
de papelão ou com a própria caveira do animal,
ou cabeça já guardada há tempos.
Aquela teria sido de um boi zebu possante e valente,
morto ali na rua da Matança, pelo pai do "Seu Beja".
A rua ficava toda enfeitada de bandeirinhas,
fitas coloridas e balões.
Do altar da igreja, São Pedro benzia a tudo,
com sua chave na mão a abrir as portas para a festança.
Na encenação, havia muita gente naquele círculo,
sentada em banquinhos, tamboretes e até no chão.
o Mateus, que era o Joca-Chico, tomava a frente da lenda,
com a cara repleta de tisna, toda pintada e com sua espada reluzente em punho.
Lembro-me das roupas, dos enfeites coloridos,
dos botões, das fitas e dos espelhos milimetricamente partidos,
da dança do boi, da história contada de forma tão bonita
a prender toda a atenção daquela gente.
Meu Pai, Seu Odilon, ficava embevecido com o boi
tão cheio de cores a dançar, dançar e dançar.
E a lenda virava uma festa só - o que contava a maquinação?
o enredo contava que Catirina, grávida, teria pedido ao marido Chico (ou Pai Francisco) para que matasse o boi mais bonito da fazenda, porque ela "desejava" comer a sua língua.
Ele atenderia ao desejo da mulher e era preso pelo seu feitor,
que tentava a todo custo ressuscitar o boi, com a ajuda de curandeiros. Boi revivido, tudo acaba em dança,
numa alegria esfuziante que deixava toda Várzea em êxtase.
Na semana da cultura, todo ano durante o mês de agosto,
o boi-de-reis é encenado.
Porque Várzea não deixou essa lenda ficar na poeira do tempo.
E o boi sempre volta para a alegria de sua gente varzeana.
Bumba, meu boi, bumba!
Bumba, Mateus Joca-Chico,
Bumba, Capitão Gonçalo,
Bumba, toda nossa gente inesquecível...
Meu majestoso boi,
Faça Várzea brilhar na sua dança!
Faça Várzea crescer na sua crença,
Dance comigo a sua dança, a sua lenda, meu boi!
Faça perene a nossa esperança...
E o nosso Mateus, o Joca-Chico, virou até nome de rua.
Nossa cidade de Várzea, que beleza, eh, boi!
virou a nossa Capital da Cultura potiguar.
Merecidamente! com louvor, é claro, é evidente,
É mérito da nossa gente festiva e altaneira.
Bumba-meu-boi, bumba!
Viva essa nossa gente varzeana!
Que maravilha! Que orgulho
para o nosso Rio Grande do Norte.
AUTOR: JOÃO MARIA LUDUGERO DA SILVA (EM 12/11/2008)
Texto de João Maria Ludugero para a Edição do VNT Online, 12/11/2008
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