CHUVA DE VERÃO

CHUVA DE VERÃO
AUTOR: Ludugero, em 28.01.2009

Estou no alpendre da minha casa, na minha Várzea
Estou sentado no banco embaixo do pé de graviola
De repente, a ventania, o vento que traz a chuva, vertente
Mas como te chamas, pequena chuva inconstante e breve?
Como te chamas, dize-me, chuva simples e leve?
Genilda ou Tereza do couro? Nina, Nuca, Vilma ou Nena Caico?

Entra, invade a casa, molha o chão, molha os velhos e a esperança nova
molha as toalhas no varal, as redes de algodão e os tapetes de sisal,
molha a lenha no fogão, a cinza ainda quentinha e o quintal
molha o gato de dona Maria, não o gato, não, pois ele não gosta de água fria.
Molha a mesa, meus cadernos e os livros, molha a minha vida.

Eu bem sei de onde vens, sei por onde andaste.
Vens dos ariscos distantes, dos sítios aromáticos, dos angicos
das Lapas, dos Trapiás, das Lagoas grandes e compridas, dos lajedos
das estradas de chão do Itapacurá onde as mangueiras florescem, de dar gosto
dos tabuleiros onde há cajus, mangabas e cajás.
Vens das margens do rio Joca onde os coqueiros se aprumam
e em noites de lua cheia passas rondando a cruz solitária do rio.
Vens do Vapor vivo, espírito do ar noturno dos Seixos
Vens lavar os paralelepípedos das ruas de pedras
da minha pequena Várzea das acácias.
Vens lavar a minha alma!

Tens a permissão de São Pedro pra se derramar
Invade a minha casa, molha o chão, molha quase tudo
Saiba que muito me agrada a tua companhia,
Porque eu te quero muito bem, doce chuva,
Quer te chames Terezinha, Rosa Marreiros, Maria ou Piedade.