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VÁRZEA: PELAS RUAS QUE ANDEI...

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VÁRZEA: PELAS RUAS QUE ANDEI...
Autor: Ludugero, 10/03/2009.
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Eu respiro os últimos espaços de ar.
Eu me envolvo no cheiro de mato, de capim novo,
de Vapor vital, pedaços de vento. flores de maracujá.
A rua da pedra caminha sob meus pés;
em vão, meu corpo afronta o tempo: avança pela rua do arame.
Pára na rua do Cruzeiro. Recua e se alegra na rua Mateus Joca Chico.
Minhas pernas teimam no ensaio do forró arrevesado. É o tempo que encanta.
Recordo do som da sanfona de Cícero cego. Eu me agito. Eu me mexo.
Não troco os pés pelas mãos e vou à luta. Remexo a alma.
Não me confundo com as horas. Sigo em frente.
Vou junto com as badaladas do sino da igreja.
Atravesso a Brasiliano Coelho de Oliveira. Sinto cheiro de pão e poesia.
Sigo em frente rechaçando teorias. Ser feliz pode ser simples.
Pode estar ali mesmo essa tal felicidade.
Eu não tropeço nas palavras não ditas:
de certo, viver a vida tem a ver com simplicidade.
As ruas terminam em quatro bocas, dobram-se em becos.
cruzam-se em encruzilhadas. A vida tem saída, retiros, ariscos.
Penso nas ruas singelas, que rua me prendeu, quem sou (fui?) eu...
Lembro-me dos nomes das ruas; o silêncio ali existe, tudo ecoa.
Não apenas o som das coisas simples. A natureza é mesmo magnífica.
Com toda modéstia, não há nada mais lindo que o cantar dos passarinhos.
Há canários, bem-te-vis e galos de campina.
Todo chamamento é música suave da brisa da tarde,
que passa e deixa ruídos, de saudades.
Não há resposta ao silêncio. Mas tudo é mágico e ecoa,
no peito, nas lembranças do meu lugar.
O sol alaranjado atravessa meus olhos,
o por-de-sol lá do açude do Calango esconde-se em mim.
Invadida de luz, minha cabeça levita em delírio. Puro êxtase.
Aprisiono imagens. Corro à frente do meu corpo
para espreitá-lo na curva do rio Joca.
Ele não chega. Sinto-me perdido, estranhamente impessoal, fora de si
quando estou longe da minha Várzea.
A cidade agora é um mar: estou longe de ti.
A sombra separa o mundo em dois mundos: Várzea e Brasília.
Subsisto em uma espera que se alonga em séculos e segundos.
Sinto nostalgia por algo que não conheci: a isso chamariam não-saudade.
Mas o que me prende é justamente o que vivi ali no meu rincão potiguar.
Em um mapa desenhado de veios, de riachos, desliza um líquido que não é sangue.
são as águas do sangradouro do Calango, cheio, a soltar peixes indecisos
que descem em direção ao rio Joca. Ainda não me liberto,
Persigo pássaros que voam em câmera lenta, são andorinhas e pardais
que pousam nas duas palmeiras em frente à matriz de São Pedro.
Faço verão, respiro fundo, por fim, reencontro meu corpo.
Um menino varzeano. Isso não ignoro. Ele não disfarça que é todo saudade.
Já somos dois, um ausente do outro. Um que está aqui em Brasília.
Outro que não tira o pensamento de Várzea.
E não sai da padaria de Seu Plácido 'Nenê' Tomaz.
Atravesso a fronteira invisível que me divide os pensamentos.
Viajo até lá para ver minha gente. que me recebe de portas abertas,
com um sorriso no rosto, gente-gente, gente assim como dona Nena, mãe do Beto Belo,
o retrato da bondade humana, da beleza de ser varzeano.
Eles, antes de mim, sentem-se livres, pois têm a certeza
de que ali mora a felicidade.
Ali, bem ali na minha Várzea das acácias.
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Beto Bello

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