VÁRZEA: UMA LIÇÃO PRA TODA VIDA

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VÁRZEA: UMA LIÇÃO PRA TODA VIDA

Autor: Ludugero, 10/03/2009.
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Observo a minha escola Dom Joaquim de Almeida, vejo o sol e o sol ainda continua lá: é o mesmo sol que iluminava meus pequenos olhos de criança, e gente nem olhava o relógio, embora hoje pareça menor. A vida, entretanto, mudou seu passo. Acelerou o tempo, atropelou-se, às vezes. Que ficou daqueles dias de sol enorme?

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O que sobrou da casca dourada e inútil das horas, senão o gosto das pitangas verdes colhidas no pé ali mesmo no jardim da escola? Viver, até aqui, valeu a pena?

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Ah, se valeu! E como valeu! Valeram os primeiros amores, os desamores, os amigos, as sextas-feiras, os insultos, os instantes de raiva que pareciam que nunca iam acabar, mas sempre se fazia as pazes na hora da sopa, da merenda servida pela dona Maria Gomes e pela dona Suzéu. Afinal, nossas rusgas eram coisas de guerra de meninos, que sempre acabavam em din-din (geladinho de coco). Nossas mãos suavam frias de trêmulas com medo de sermos reprovados, de não passar de ano, mas tudo resultava em êxito e um passeio escolar para comemorar a nota final. Valeram as brincadeiras, as lágrimas e o sol enorme daqueles dias. O que eu esperava da vida?

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Que ela me transformasse em um herói da geração, que me sorrisse o tempo todo?

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Não. Agradeço pelos dias de confusão. Agradeço a Deus por ter visto o feio, para hoje entender o que é o belo de verdade. Beleza mesmo eu tinha na minha Várzea. Aliás, desde lá eu já transportava a beleza no meu interior, pois se a gente não a traz conosco é inútil percorrer o mundo. Em nenhum lugar a encontraremos.

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Vejo o sol e ele ainda continua lá. E eu estou em Brasília, em plena Capital da República do Brasil,eu aqui, pequenino, em meio a milhões de pessoas apressadas, sigo em frente.

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Eu cresci mundo afora, mas, de certo modo, ainda vejo tudo com os olhos da minha velha infância varzeana: o mundo é uma enorme folha em branco, esperando o traço livre do meu lápis de cor, e a vida é o dever que trouxemos para fazer em casa.

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De tudo, aprendi uma coisa: não deixo de fazer algo que gosto devido à falta de tempo.

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Nunca esqueço de lembrar-me sempre de uma coisa: a única falta que terei, sem dúvida, será desse tempo que infelizmente não voltará jamais!