JOCA: SE EU FOSSE UM RIO...

JOCA: SE EU FOSSE UM RIO...
Autor: Ludugero, 05/05/2009.
.
Se eu fosse um rio,
gostaria de ser um rio travesso
poderia ser assim um rio simples,
sem muitos meandros
feito o rio Joca,
que banha a minha Várzea
um rio a correr entre árvores,
entre roças, roçados e o coqueiral,
espreguiçar-me na vargem,
vazar pelos bueiros, escoar meus conflitos
verdejar o cheiro do mato
te mostrar o caminho das pedras
e demorar muito
para chegar até o mar.
E quando eu nada mais for,
quando a memória esvaziar meus braços,
minhas andanças,
minhas lembranças
estas permanecerão no arquivo vivo
estarei só um bocadinho cansado
de segurar o mundo e a alma,
serei um rio tal qual o rio Joca
a correr, a irrigar a nossa boa terra,
estarei além do fluxo do tempo,
a resistir toda devastação, todo descaso
me abandonarei à sorte, sobreviverei
vou passar e repassar entre os peixes, entre os juncos,
vou descansar à sombra dos juazeiros,
vou estar na rede dos sonhos dos pescadores
ser tarrafa, ser landuá, ser samburá
vou estar no ruído das corredeiras,
a levar a alma desse rio junto comigo
a viajar ribanceiras a se refletir inquieto
até encontrar o mar aberto para me receber,
só pra ter esse rio Joca
que me carrega a passeio
só para ver o mar,
varzeânico rio que desemboca no mar
do meu coração!
Nunca é demais lembrar
de que nós passamos,
mas nunca os mesmos
pelas mesmas águas
salobras águas do rio Joca, pelo seu leito
sempre carregarás novas águas,
sempre desabrochando novas folhas,
carregando novos juncos e areias novas,
trazendo esperanças novas,
secarás nossas velhas lágrimas
por toda a eternidade.
Até quando eu sorrio, serei ou sou-rio?