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A ÚLTIMA VONTADE DO VARZEANO
Autor: Ludugero, 28/07/2009.
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Não quero a vida terminar, mas, numa hipótese, num dia desses,
Se de repente, o mundo tivesse que acabar, e tudo nele explodir,
E porque deveríamos tudo terminar,
Eu, para esse dia e esse fim, exigiria:
Uma criatura matizada de puro Vapor de natureza viva,
Repleto recanto de água pura, de Ariscos verdes de água doce
Queria um Retiro todo de vento e de lua,
De ares puros, de caldos de cana-caiana
E flocos de algodão alados no azul do céu e Seixos voadores...
Queria um paredão abrupto provedor de luz de por-de-sol alaranjado
Arrancando relâmpagos e coriscos de seu corpo ardente, no crepúsculo,
Sangradouro de amores, rompendo o horizonte do açude do Calango,
Desvirginando Vargens, Angicos, Trapiás, Lapas e Itapacurás...
E tudo o mais que se achasse pela frente, até mesmo as Novas Esperanças!
E posto que não hei de pedir alternativas, eu para esse dia e esse fim, ainda exigiria:
Uma criatura tormenta, azul, fosforescente que me rasgasse o véu da madrugada
Que não amanheça nunca, que me conduza à praia de areias brancas do rio Joca, descalço como o rio.
Que me apague tal como num beijo de tarântula no seu sexo, quero morrer assim,
Mas de prazer, de viver acariciando suas tranças feitas de puro sisal, agave que me dá cordas
E acordes para não ter receio de entregar minha alma a esta mulher
Que chora encantada, que atravessa as ruas da minha Várzea,
Madrugada a dentro, a chorar suas penas...
E as minhas, quem as haverá de chorar por mim, me diga?
Pouco importa, ou importaria, pois mundo mais não haveria
Para lágrimas derramadas ou sonhos que ficaram no papel-pesadelo.
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E para que tudo afinal me seja compensado,
Eu, para esse dia e esse fim, exigira:
Uma criatura inteira, detida, irrequieta que seja, atrevida.
Essa, aí, a que nunca se inclina com cabelos de chuvisco,
Com olhos marejados de orvalho lá dos olhos d'água
Vertentes do Lajedo Grande, Pedras mais parecidas com peitos suspensos,
Lagoas grandes e compridas, sedentas de vida,
Todas pintadas de verdejantes tapetes de juncos e capins silvestres,
Por onde ecoa o cio da terra.
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Queria ter na boca um arco-íris, queria tê-la lua inteira,
Lua que me desfaleça e me reviva, e que me viva para sempre,
Ou até nunca mais, a jorrar no peito verdes amores verdes e flores de paixão,
Flores de Maracujá, flores a aromatizar riachos de mel
E campos de alegria, roças e roçados de pura poesia,
Bem-te-vis benfazejos e canários que me elevam ao chão,
Num canto de Amor e encantamento que só a minha Várzea tem
E continuará a ter, com toda a sua simplicidade e beleza,
E, por derradeiro, fecho estes versos simples,
Porque o mundo ainda não vai se acabar...
Acaba não mundão de Deus... Agora, ainda, não!
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