AVE-CORAÇÃO
Autor:João Maria Ludugero.
Eu viajo pelo Vapor de Zuquinha
Eu passeio na tarde sem pressa
Eu curto a paisagem varzeana
Eu me atiro pelos caminhos áridos
Eu vou em busca de um olho d'água
Eu me banho na cacimba cavada na areia
Eu tomo um banho no poço de Nozinho
Eu mergulho no resto do rio Joca
Eu jogo a rede e o landuá no que sobrou do rio
E ainda fisgo carás e algumas aratanhas.
Eu observo aves a cortar o céu
Elas voam alto direto ao meu pensamento
Meu coração-sabiá canta com pena de mim
Ele bate descompassado a entoar uma canção de Amor
Seu tum-tum me arremessa
feito um canário de chão
Que se encontra escondido
entre as ramas do roçado
Que voa vertiginoso
com receio de algum laço feito de crinas de cavalo
a levá-lo à prisão, sancionada a duras penas.
Prefiro ser livre e solto
feito aquele pintassilgo a cantar,
a afastar minha dor, minha saudade.
Prefiro a paisagem aberta, o risco do estilingue
Do que morrer patativa na redoma da gaiola.
Triste sina a do azulão arrancado da sua senda.
Assim é a minha vida, que fica pela metade,
se estou longe longe da minha Várzea.
Hoje sinto o meu coração-galo de campina
A carregar grande dor, mas ninguém tem dó de mim!
Sou passarinho bem distante do meu ninho, triste fardo,
Minha saudade-condor voa alto tão rasante
Que parte rumo ao infinito, apesar dos pesares.
Mas voa que voa alto,
Não voa só meu coração-não-sebito
Plaina levemente, além do rio da Cruz
Suavemente sobre as nuvens azuis
Sobre o tempo, sobre o espaço
carrega suas lembranças,tantas-tantas
Sobre o pó das estradinhas de chão.
Voa livre em meu olhar
Que busca um Itapacurá.
O inquire, flor da paixão-maracujá,
Mas ele nada responde, fruta mordida,
Bicado caju não poupado pelo afoito periquito.
Mas sinto que meu coração-gavião
É pássaro liberto e segue inquieto
Longe vai, busca caminhos e destino.
Nada teme, seu reino é o imenso céu,
Onde apenas o ar o envolve solene,
Depois plaina devagarzinho, meu coração-quero-quero
Bravo coração-tetéu, de volta vem pro seu ninho
Em busca do seu Amor, insubstituível
Em busca da sua amada terra do agreste
Em busca da sua Várzea das Acácias.
Porque lá é a minha casa, meu retiro
Onde a gente vai andar e voa,
Voa sem medo de ser feliz, simplesmente.
É lá aonde eu tenho ariscos de sombra e água fresca!
Que dádiva posso eu querer mais da vida? Me diga!
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Ave, Naria, este poeta é mesmo de tirar o fôlego da gente. Estou sensibilizada com sua poesia de encher a alma da gente de Amor e de simplicidade. Adoro seus textos. Escreva mais, poeta varzeano, vc é muito dez no coração da gente. Valeu!!! Abração. Gera e Cacá.
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