SALVA-VIDAS

E a gente se caçava em tantas coisas

entes descartáveis 

formigas cabeçudas

enfileiradas uma a uma

a cortar suas folhas 

a trilhar estradas

que o caminhar de costume

já desenhou em lacunas

convencionais labirintos 

com setas 

indicando somente a entrada

e a gente tomava Prozac  

e a gente varava a noite

e a gente nem sonhava mais

e a gente mais se perdia na selva 

sem identidade, na corda bamba

foi quando me acertaste na mosca 

e assim se abriu o clarão, de fato

acreditei que havia saída, um beco

e acordei na tua cama, lúcido

e não precisei de aspirina

nem de estricnina 

nem de cortar os pulsos

e agora eu preciso de norte

minha bússola está viciada, não serve

me empresta a do seu coração,

quiçá ele orientará minha nau

e me  levará à terra firme, 

no preciso bote do teu olhar 

és a estrela da manhã

de um novo dia

ora eu quero o que tens de mais precioso

não quero diamantes nem tesouros,

Eu não quero ouro, 

nem botijas assombradas,

quero sim tua vaidade, teu nexo

quero ser tua inteira metade, minha cara,

sonhar na tua paisagem, 

sentir tua natureza sem igual.

quero o todo, não quero aparte,

não quero passar por ti

a vegetar apenas

não quero passar por ti 

a ver navios,

quero estar no teu barco a remar

quero viver, mas se for pra ser longe de ti, 

eu desisto, não consigo, eu me entrego,

pois se não estais em mim

vivo a  perambular pela vida 

sem sossego feito alma penada

autor: João Maria Ludugero.