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Ofuscado (um amor de fusca)

autor: João Ludugero

um fusca colorex
quase naquela cor creme
de louça de ensopado
da santa marina
cor de gema de ovo batido
cor de pirex antigo
amarelo maduro curtido
que o tempo de uso
o fez ficar fosco fusca

percorri seu rastro, às claras,
com meu pálio azul marinho
era quase escuro
e ainda assim brusco
quase noite o segui
e morreu

de mansinho
ali ó, na beira do parque
onde crianças pulavam
amarelinhas
e o tal carro cor
de bago de jaca madura
ou seria de polpa de cupuaçu?

só sei que a tarde
amena amarelou
como a minha cara
e a dos caras da rua

que ajudaram a empurrar o fusca
ali na via lateral do prédio
da preferencial
situado no Brasil XXI
e ó
pó pó pó
pegou no solavanco
aos trancos
e rumou direto ao eixo
monumental a caminho de casa

no longe o vi ainda a ofuscar
redondo e engrenado,
soltando fumaça e cheiro
de gasolina
dentro dele uma boca sorridente,
além do buraco do tatu
no mormaço da tarde
além das bocas sem dentes
dos túneis das tesourinhas

que cortam Brasília

daí não tive outra saída
encontrei-me ofuscado
e até hoje, confesso,
oh, meu Volkswagen,
não tenho medo da vida
de conduzir minha sina,
mesmo tendo o destino

que abrir meu coração

levá-lo-ei à oficina, sim,
para uma revisão de praxe
e ó, meu coração,

pó pó pó
assim bate ele,
enquanto eu apanho,
resignado

forte é o motor fiel
condutor do meu peito
apenas vai fazer uso
do martelinho
de ouro...
estou pronto
pra restauração
para mostrar
a quem interessar possa
que amo de paixão
que vale a pena
acelerar esse amor
que dá rosto a essa busca

e mais aposto
que ele está longe
de ser passageiro
de ser lusco-fusco impostor

porque se aquele velho fusca falasse
todos saberiam
de uma vez por todas
o quanto fui feliz
e ainda sou!
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João Maria Ludugero

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1 comments:

  1. Adorei este poema do fusca. Que legal! Muito bem bolado, um amor de poesia, de verdade. Estou boquiaberta, babando de ler e reler sua poesia que tanto nos encanta.
    Abraço afetuoso,
    Cláudia

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