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VÁRZEA, CIDADE DA CULTURA, O BOI-DE-REIS E UM MATEUS CHAMADO JOCA CHICO











Autor: João Maria Ludugero

E no meio do folguedo,
no meio de tudo estava o boi,
a figura central do auto,
que geralmente era feito
com uma armação de cipó
coberta de veludo e chita,
e embaixo da armação: um homem.

Um homem que vestia o boi,
um homem vestido na armação
para dar movimento ao boi.
E a cabeça podia ser feita
de papelão ou com a própria caveira do animal,
ou  a partir de uma cabeça de boi,
já guardada há tempos.

Aquela ali poderia teria sido
de um boi zebu possante e valente,
morto ali na rua da Matança, pelo pai de Jesus, "Seu Beja".
A rua ficava toda enfeitada de bandeirinhas,
fitas coloridas e balões. E, do altar da igreja,
o apóstolo São Pedro benzia a tudo,
com sua chave na mão a abrir as portas para a festança.
Na encenação, havia muita gente naquele círculo,
sentada em banquinhos, tamboretes e até no chão.

O Mateus, que era o Joca-Chico,
comandava, tomava a frente da lenda,
com a cara repleta de tisna, toda pintada
e com sua espada reluzente em punho.
Lembro-me das roupas, dos enfeites coloridos,
dos botões, das fitas e dos espelhos milimetricamente partidos,
da dança do boi, da história contada de forma tão bonita
a prender toda a atenção daquela gente.

Meu Pai, Seu Odilon, ficava embevecido com o boi
tão cheio de cores a dançar, dançar e dançar.
E a lenda virava uma festa só - o que contava a maquinação?
O enredo contava que Catirina, grávida,
teria pedido ao marido Chico (ou Pai Francisco)
para que matasse o boi mais bonito da fazenda,
porque ela "desejava" comer a sua língua.

Ele atenderia ao desejo da mulher e era preso pelo seu feitor,
que tentava a todo custo ressuscitar o boi,
com a ajuda de curandeiros.
Boi revivido, tudo acaba em dança, numa alegria esfuziante
que deixava toda Várzea em êxtase.

Na semana da cultura, todo ano durante o mês de agosto,
o boi-de-reis é encenado. Porque Várzea não deixou essa lenda
ficar na poeira do tempo. E o boi sempre volta para a alegria
de sua gente varzeana. Reina, meu boi, bumba!
Bumba, Mateus Joca-Chico,
Bumba, Capitão Gonçalo,
Bumba, toda nossa gente inesquecível...

Meu majestoso boi, tradição da minha gente,
Faça Várzea brilhar na sua dança!
Faça Várzea crescer na sua crença,
Dance comigo a sua dança, a sua lenda, meu boi!
Faça perene a nossa lenda, faça-nos a esperança renovar...

E o nosso Mateus, o Joca-Chico, virou até nome de rua.
Nossa cidade de Várzea, que beleza, eh, boi!
virou a nossa 'Cidade da Cultura' potiguar.
Merecidamente! com louvor, é claro, é evidente;
é mérito da nossa gente festiva e altaneira.
Bumba-meu-boi, bumba!
Viva essa nossa gente varzeana!
Que maravilha! Que orgulho
para o nosso Rio Grande do Norte.
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João Maria Ludugero

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5 comments:

  1. Poeta João Maria, vc é uma lenda vida da nossa terra. Adoro seus escritos, sua poesia divina. Abraço caloroso. Zezé.

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  2. Belíssima poesia. Sensacional,assim como tudo que tem nesse blog supimpa, maravilhoso! Adoro vcs! Beijoca, Leide

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  3. E que maravilha esse poema, não é mesmo?
    Bela escolha de poema numa justa homenagem a Mateus Joca Chico. Bela blogagem, querido João Maria, poeta de Várzea!
    Amei esse blog VNT, seu versejar e tudo por aqui! Vou virar sua seguidora...não tem mais jeito!rsrs. Este site é maravilhoso!
    Revisitar Várzea sempre será ensejo de novos olhares, adoro o pessoal de lá, a cidade é um encanto. Abraços da Lú.
    Beijos mil.

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  4. GENTE, VEJAM ISSO - É UM LINDO POEMA. PENA QUE NEM TODOS PODEM LER E VER A BELEZA DESSAS PALAVRAS. ESTE CARA É LINDO DE VIVER, FALO DO JOÃO MARIA... ELE É O RETRATO DE QUE VÁRZEA TEM GENTE LINDA, POR DENTRO E POR FORA. ADORO SUA POESIA. ADORO VÁRZEA. NÃO SEI MAIS FICAR SEM LER ESTE SITE. BEIJOS, SUZANNE.

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  5. Uma das minhas visitas diárias obrigatórias é o site do Várzea Nossa Terra, esta brilhante iniciativa de Beto Belo e Companhia. Outra área do site que olho primeiro é o local onde estão exibidos os versos de João Maria Ludugero.
    Grande poeta e exemplo de varzeano vencedor, que jamais abandonou suas origens e seu amor pela Nossa Terra, em seus versos consegue descrever com precisão quadros de uma história, passada e presente, extraído das entranhas das nossas lembranças mais profundas, resgatando, desta forma, a nossa "Varzeanidade"! Parabéns, João Maria, e parabéns Equipe do VNT pela brilhante cobertura dada à XXX Semana da Cultura.

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