VÁRZEA: APESAR DOS PESARES, CAMINHOS DE PEDRAS E DE SEIXOS (AONDE FOI PARAR A ÁGUA DAS NOSSAS TORNEIRAS?)

VÁRZEA: APESAR DOS PESARES, CAMINHOS DE PEDRAS E DE SEIXOS

(AONDE FOI PARAR A ÁGUA POTÁVEL DAS NOSSAS TORNEIRAS?)

Autor: João Maria Ludugero

Pedra sobre pedra, areia, barro e piçarro

Fez-se o suado paredão do Calango.

Gosto de ver a lua toda nele refletida, nas águas verdes,

A lua a se banhar no açude, banho de lua.

Apesar da rusticidade desse lugar,

Apesar dos mosquitos, das muriçocas

E da falta de água potável nas torneiras das casas,

Apesar de tudo, gosto da sua simplicidade.

O vapor das águas ameniza o calor da tarde

Que a brisa perfuma e açoita pela Vargem afora,

Numa forma de abrandar, de amenizar que seja,

Numa prece a minha saudade atroz, pungente,

Num cofre de seda, que é meu coração varzeano,

E nele estão depositadas as minhas lembranças!

Vale a pena vir aqui buscar um pouco de sua paz singela

E poder sentir sua paz verdadeira

Que só encontro nos braços da minha Várzea

De Ângelo Bezerra, nos lajedos as arestas,

Os cinzas, os cactos e as flores.

Nas pedras o lodo, o limo e a feitura dos calçamentos;

No pavimento da rua, os paralelepípedos,

Pedras cortadas uma a uma, aos cubos, frente e verso.

E quanta gente boa já andou

Na superfície destas pedras ao sol!

Pioneiros da minha Várzea, com suor no rosto,

Heróis anônimos da minha Várzea,

Que já se foram embora, mas que construíram

Com pedras, coragem e alegria, sem medir esforços,

Os alicerces da nossa igreja de São Pedro Apóstolo,

Construídos com garra e fé santa, de fato,

Tudo edificado na pedra que fica além do tempo, com esmero.

Aprendemos a consagrar nosso credo, nossa fé,

Aprendemos a renovar nossas esperanças, velhas e novas.

Sem pressa, vamos ladrilhar nossa rua de sonhos e poesia,

dia após dia, o elemento, a rocha, vamos sedimentar o porvir.

E acreditar que poderemos fazer deste chão

O melhor lugar para se viver, nosso querido torrão, nossa Várzea!

Aprendendo e ensinando o caminho das pedras, sem traumas,

Até que retornemos ao pó de onde viemos, dita certeza,

Sem passar em brancas pedras de cal e salitre,

Eis que estamos aqui para uma missão: Ser feliz!

Depois de tudo, a única certeza que temos:

Nos desmancharemos no ar, sem remédio,

Sem nada levar, nem pedras, nem ganhos,

Seremos apenas pó, poeira e mais nada.