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O PILÃO DE ANA MOITA


Autor: João Maria Ludugero

Construí minha casinha
Junto ao verde coqueiral
Lá na beira do rio Joca,
Só pra que eu pudesse me lembrar
Das canções de ninar,
Me embalar na rede de algodão,
Ao passo em que, do alpendre,
Eu me pusesse a apreciar a Várzea
Que se alastra no braço
Desse rio de seio lamacento
Que se torna ouro radiante
A escorrer nas promessas do pôr-do-sol.
É nesse instante que me vem à tona
Essas coisas marcantes do meu interior.
E aí não me esqueço de dona Ana Moita,
Benzedeira de mancheia, 
Metendo a mão na massa,
Preparando guloseimas, manjares
Daqueles de dar água na boca dos deuses,
A fazer paçoca de pilão
E grudes de goma e coco
Na palha lustrosa da bananeira.
Recordo-me, bem da velha infância,
Em que minha avó Dalila me levava
Ao beco das rezadeiras
Para afastar quebrantos,
Tirar maus-olhados e ziquiziras.
E ela, dona Ana Moita,
Por entre figas e favas, 
Acenava uns ramos de alfazema,
Arruda, guiné e outras palhas bentas
Que murchavam aos credos e cantos
Na cabeça da gente, a espantar os males.
E o langor desaparecia num piscar de olhos.
E até íngua e espinhela caída
Ela curava nas sete batidas no pilão.
E o beco da reza fervilhava
Do meio-dia às seis da tarde,
Pela intercessão dos santos
Que batiam tambor e ponto,
Curavam males do corpo e da alma,
A fazer o mundo girar com a mulinga
Por simpatias, rezas para descaminhos,
Fechamento de corpos, banhos de cheiro,
Preceitos e ensalmos de toda sorte.
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João Maria Ludugero

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