Ela juntava cravos sapecados, ervas-doces e canelas.
Ela entornava um balde de melado de rapadura,
raspas de coco espremidas na hora
no pano de algodão para coar o leite.
Por toda noite eu ouvia
o gotejar na tina d'água,
os ruídos e os cheiros doces
que tomavam conta das ruas e becos
enquanto lá do quintal Suetônio
acendia as catembas de coco
para aquecer o forno à lenha.
Havia palhas de bananeira espalhadas
nas assadeiras de zinco e nas folhas de flandres
a dar forma aos bolos de milho,
aos bolos de batata-doce e mandioca,
aos bolos pretos e aos sequilhos.
Eram tantas e tantas quengas e achas
a queimar para aquecer o fogão caipira.
E dali saíam alguidares de tantas delícias
que seriam vendidas na feirinha de domingo...
E ora me resta o sabor como ingrediente
da lembrança de dona Zidora, uma varzeana
que tirava poesia da massa
da mandioca e do fubá de milho!
E para matar um pouco essa saudade
com a mulinga, ora resolvi escavar um pouco
com a mulinga, ora resolvi escavar um pouco
acerca das raízes da nossa terra
fazendo letras em bolos e quitutes
que até hoje prevalecem em pratos na mesa
de todo bom varzeano.
Ah, está ali Marinam de Lica
que não me deixa mentir
nem que me falhe a memória...
Nem poderia, haja vista fornalhas
de bolo preto, grude e broas
que a todo instante acabam de sair...
Até parece que estou vendo
minha gente a degustar uma bacia
de grudes de coco e carrapichos...
DELÍCIA DE POEMA! VALEU DEMAIS!
ResponderExcluirSurpreendente como resgatas boas lembranças, de um modo que alegra a alma da gente... Até nas coisas mais simples da lida varzeana. Parabéns!
ResponderExcluirBelíssimo texto. Deu mesmo vontade de saborear o bolo-preto de Marinam com um cafezinho. E quanta saudade de dona Zidora Paulino! Beijos.
Leila
"É de dar água na boca!
ResponderExcluirVai uma 'raivinha', aí?
V'ambora pra Várzea, v'ambora!"
Que saudade da mulinga!
Abraços,
Adelson