Santos, SP, 21 (AFI) - Depois de ser chamado de "macaco" pela torcida do Grêmio, em agosto do ano passado, o goleiro Aranha vem ouvindo novamente injúrias racistas. Com um agravante: desta vez, os xingamentos vêm dos torcedores do próprio Santos,
o clube que ele defende. Desde a semana passada, os insultos estão
sendo publicados em uma comunidade de torcedores santistas, um grupo
fechado, no Facebook. Os comentários fazem parte de conversas de
torcedores e não enviadas para o jogador. Alguns torcedores xingam o
goleiro; outros, condenam as injúrias raciais. A identidade dos
torcedores foi preservada por questões legais.
"Vai tomar no c.., Aranha, seu macaco, do c... Sempre tive vontade de
xingar esse ..., agora tive a chance", diz uma mensagem. "Aranha cagou
na saída e já era, preto safado, e sem mimimi!", diz outra ofensa.
Outras são ainda mais agressivas: "Chamar o aranha de macaco é ofender o
pobre macaco! Tem preto que é pior do que macaco, inclusive esse
Aranha, goleiro lixo, e sem caráter!". "Racismo é imperdoável. Fazem
várias montagens do Aranha no corpo do Péricles do Exalta (por conta da
forma física, já que o goleiro anda fora de forma... Até aí, tudo bem).
Mas chamar de macaco, e fazer montagens de cunho racista? Aí, não dá. Um
erro não justifica o outro", defende um torcedor, contrário ao racismo.
As ofensas foram motivadas pelo fato de o goleiro ter acionado a Justiça
do Trabalho para cobrar três meses de salários atrasados, direitos de
imagem e recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O
jogador tenta rescindir seu contrato para se transferir, provavelmente,
para o Palmeiras.
Uma audiência será realizada na tarde desta
quarta-feira para definir a situação do jogador. Se conseguir a
rescisão, poderá atuar pelo clube alviverde. Caso contrário, continuará
como jogador do Santos, mas deverá treinar separadamente até ser
negociado.
Embora os casos de discriminação no futebol brasileiro
tenham se tornado comuns no ano passado, as ofensas dos santistas se
diferenciam por atacar um jogador do próprio clube. Em 2014, Tinga,
Arouca, o árbitro Márcio Chagas, o lateral Assis, do Uberlândia, e o
atacante Francis, do Boa, foram xingados sempre por torcedores ou
jogadores adversários.
Aranha se vê envolvido em uma situação de
discriminação menos de cinco meses depois de ser protagonista de um
episódio de repercussão nacional. No dia 28 de agosto, no jogo entre
Grêmio e Santos pela Copa do Brasil, em Porto Alegre. Torcedores
xingaram o goleiro de "macaco". O Grêmio acabou eliminado da competição
pelo STJD.
Os torcedores Patricia Moreira, Eder Braga, Fernando
Ascal e Ricardo Rychter pegariam de um a três anos de prisão. Pegariam.
No lugar da pena, aceitaram a proposta para se apresentarem a uma
delegacia a ser determinada uma hora antes de cada jogo oficial do
Grêmio em Porto Alegre durante 10 meses. Em entrevista exclusiva ao
Estado de S. Paulo, no mês de dezembro, o goleiro afirmou que não temia
ficar marcado pelo episódio. "O que aconteceu não foi importante só para
os negros, mas para todos os cidadãos", declarou.
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