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‘Temos que curar mais o emocional’, diz Angélica sobre acidente de avião

No VNT do G1 - 26/05/2016
No dia seguinte ao acidente com um avião em Mato Grosso do Sul, Angélica e Luciano Huck fizeram exames em um hospital de São Paulo. Foi lá que deram uma entrevista exclusiva ao Jornal Nacional. Eles contam os momentos de pavor que antecederam o pouso forçado.

Burnier: Luciano, o que foi que aconteceu?

Huck: Foi um milagre. A gente encarou como um renascimento da família toda. Pra gente agradecer. A gente nem sabe como começar a agradecer. Quando a gente estava a uns 15 minutos fora de Campo Grande, estava sentado eu, Benício do meu lado, Joaquim na minha frente. Angélica, as duas babás e a Eva estava brincando pelo avião. E aí, o avião mudou o barulho e deu uma ‘bundadinha’ de lado. Aí, eu que gosto de aviação, olhei e o piloto estava mexendo na bomba de combustível. Eu olhei o painel e vi que um motor estava apagado e tinha um motor só. Aí comecei a trocar ideia com o comandante. Eu só posso agradecer a ele. Salvou todos nós, o Osmar. Ele disse que estava com um motor só, nunca tinha perdido a bomba de combustível. E eu falei: ‘tá bom, mas vamos fazer o que?’

Burnier: Nesse momento, como estava o clima dentro do avião?

Huck: Nesse momento, essa [Angélica] se desesperou. Estava gritando muito já. O meu mais velho, Joaquim, estava gritando muito. O Benício estava tenso, quieto. Angélica gritava: ‘eu quero que pouse!’. Aí é sensação é como de quando você é pai e quer explicar pra alguém que não foi. Não sei explicar.

Angélica: Ele virou pra mim, ele estava muito pálido. Ele virou pra mim, eu falei: ‘a gente vai pousar?’, ele: ‘não, a gente vai cair’. Quando ele falou ‘a gente vai cair’, ele disse: ‘abaixa’. A gente abaixou. Quando eu olhei, o lado de lá já apagou um dos motores e o avião embicou. Eu olhei pra ele e vi que a gente estava caindo. Meu filho gritava muito ‘eu não quero morrer’. Aí eu percebi que a gente estava caindo.
Burnier: E você, claro, entrou em pânico?

Angélica: Eu entrei em pânico. Eu vi o piloto falando em uma entrevista que eu gritava muito e eu não lembro que eu gritava muito.

Burnier: O que passou pela sua cabeça nesse momento?

Angélica: Passou na minha cabeça que a gente ia se machucar muito ou morrer. Passou na minha cabeça rápido que eu preferia então que a gente não se machucasse. Fez um silêncio na cabine, enquanto ele estava batendo no chão, a primeira batida, a segunda, a terceira, era um barulho ensurdecedor, mas assim, um silencio muito grande no coração, sabe? A gente quando estava batendo ali, a lembrança que eu tenho é de que a gente estava, eu não sei, como a gente tivesse morrendo mesmo, um silêncio, uma coisa estranha.

Burnier: Como se estivesse no fim?
Angélica: É.

Felizmente, os dois sofreram apenas ferimentos leves. Luciano teve uma fissura pequena numa vertebra torácica. E Angélica distendeu três músculos pequenos que são ligados à bacia e o músculo da cervical, da nuca.

Huck: Eu estava com muita dor nas costas, muita, muita, muita, mas eu sabia que não podia esmaecer porque eu sabia que tinha que resolver aquilo até estar todo mundo bem. E a Angélica, a gente não sabia se tinha alguma coisa dentro, porque ela chorava muito, ela não conseguia andar, se retorcia toda, ela estava muito nervosa e as crianças estavam bem. A Eva, que chorava muito, a gente achou que ela tinha se machucado por dentro, ela estava com uma marca na lateralzinha, mas foi a babá que apertou muito ela.

Angélica: E o Joaquim inchou o rosto na hora, mas ele bateu na janela.

Huck: Mas quando a gente chegou no hospital, ninguém tinha avisado ainda. Então, a gente parou o carro, desci com as crianças, a Angélica chorando e as pessoas, quando olhavam pra nossa cara, já foi estranho descer a família inteira. Aí chegou um médico e eu falei “a gente caiu de avião”. Ele falou: “Mas quando?”. Eu falei: “Agora, faz 20 minutos”. A Santa Casa foi muito carinhosa.

Huck: O hospital estava lotado. Ontem, quando eu estava vindo para cá, de ambulância, de aeromédico para São Paulo, e eu estava feliz, eu pensava “bicho, o que a gente viveu aqui”... E agora está todo mundo vivo, nossos filhos estão bem, não ia me perdoar jamais na vida se tivesse acontecido qualquer coisa com qualquer um dos meus familiares.

Angélica: E a gente está aqui pra contar.

Huck: E estamos aqui pra contar, e agora é só se recuperar e agradecer às pessoas que nos ajudaram. E agradecer a centenas de milhares de mensagens que a gente recebeu.


Burnier: Você está com dor ainda?

Huck: Estou, mas eu estou melhor, eu quebrei a 11ª vértebra.


Angélica: Apanhei ontem, toda doída, mas tão feliz, de estar viva, de estar bem, mas vou ter que ficar um pouquinho de molho... Mas, pelo que foi, a gente tem só que dizer que a gente está muito bem. Acho que, hoje, o que a gente tem que curar mais é o emocional, porque eu sou chorona.


Burnier: Você conseguiu dormir?

Angélica: Eu ainda não consegui dormir, porque eu fecho o olho e fico vendo tudo de novo, fica passando como se eu tivesse assistido um filme.


Burnier: Agora é só segurar um pouquinho nos esportes radicais. E, da próxima vez, pra não deixar de fazer a brincadeira que está todo mundo fazendo, vai de táxi!



Angélica: E não pode ser aéreo! Obrigada, gente, obrigada mesmo pelo carinho.

Huck: Obrigado, obrigado.

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