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...E ATÉ O SOL DESCE PARA SE DEITAR NO COLO DA MINHA VÁRZEA!


... E ATÉ O SOL DESCE PARA SE DEITAR NO COLO DA MINHA VÁRZEA!
Autor: Ludugero, 22/04/2009.
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Atravesso a Brasiliano Coelho, aperto o passo, paralelepípedos acima, até chegar na praça do centro, no cerne do coração da minha Várzea, bem de frente para a igreja-matriz de São Pedro Apóstolo. Ali o meu olhar se levanta num sobe e desce junto com o sol do horizonte varzeano. Eu atravesso horizontes, pensamentos, bueiros, pontes, porteiras, portas e janelas, e nada me pára, nada me pára.
Faço versos observando a minha gente, seu jeito de viver a vida do modo mais simples, com a simplicidade que só o varzeano sabe ter. Eu flutuo leve como um pássaro, um nativo canário de chão, uma folha solta na brisa que serena a tarde com outros ares, com cheiros de mato e terra depois da chuva. O vento me golpeia a cara, me açoita a aragem num bafo genuinamente varzeano das coisas da terra, das flores silvestres da nossa natureza de pura essência, caloroso Vapor vital, vento brando que me acolhe como um amigo, um irmão, e eu me sinto um cavalo livre, sim, um cavalo com asas.
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Não ignoro as flores pelo caminho, nem as pedras nem os espinhos, nem mesmo as cores que nada mais são que as cores de outras cores que me embelezam a visão, e o meu olhar rasga o céu de verde-azul vermelho-cinza escuro-laranja-pôr-de-sol-qualquer-coisa-qualquer-cor, na velocidade do som de uma cantiga de um magote de meninos e meninas que brincam a ciranda da vida sob as barbas de São Pedro, e até escuto uma canção que não toca em nenhuma rádio, mas que toca o coração da gente. Parece mesmo uma sinfonia que cai do céu, que sai de um piano desafinado e mágico.
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Como é bonito de se ver o meu recanto, o meu retiro, o meu refúgio, a minha toca aonde eu canto o meu próprio silêncio, onde o gosto de estar só não é amargo- onde a liberdade mais parece uma flor comestível, uma flor de algodão-doce colorido, a se derreter no céu da boca. Eu furo as nuvens de algodão colorido. Eu viajo no céu da minha cidade das acácias, eu faço e refaço carneiros e figuras nas nuvens esfiapadas que desenham nossa imaginação no azul do firmamento. Eu corro os quatro cantos do lugar, sem sair do lugar, sem tirar os pés do chão, tenho pernas fortes, de nada valeriam as pernas se não fossem para me levar a este querido torrão potiguar, num curto espaço-tempo possível. Impossível é não se apaixonar por este lugar. Ali aonde a simplicidade fez a sua morada numa bela composição entre rios, riachos, coqueiral, roça, roçados e vapores.
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Eu sigo correntes migratórias de ideias, persigo planos refugiados, tudo se renova em um exílio mental, tudo, tudo - de novo este tudo a me perturbar, a me fazer pensar e repensar as palavras, burilar os versos, unir as intenções, desentupir os neurônios, abrir as veias, vasos e capilares em prol de versos simples, vertentes que gritam um punhado de vezes no intuito de que uma pessoa que seja me escute, que os ventos escutem, que os meus ossos escutem, que eu, surdo, escute. Não, nada me pára, nada me pára, tenho pressa de vida, mas em prol de bem viver a vida, de tecê-la com garra, com força, com arte, com manhas de acordar para o batente agora, sem temer ao bicho-papão da morte que, com a graça de Deus. para mim, não chegará tão cedo. Eu gosto muito dos meus pulsos. Preciso viver o suficiente para satisfazer meu intento: Ver a minha cidade da felicidade de bem com a vida, uma Várzea feliz, de verdade!
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Eu, esse tal João Maria Ludugero, escritor, não quero estar aqui apenas de passagem, a seco. Quero e preciso ser mais que apenas carne e osso, ser mais que matéria, eu que me perco dentro de um corpo que me prende como uma mensagem na garrafa, como inseto na teia, como sangue na veia, e vejo o mundo correr. Exijo mais que essa inércia sem graça que me transporta sem ser transportado! Quero ferver, entrar em ebulição, não quero ser apenas matéria oca, insignificante, coisa desprezível, insossa e morna.
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Estou aceso: alvoreço já principiando a me manifestar com os meus versos, que me rompem as ideias, martelando o pensamento, o crânio e, antes do crepúsculo, do entardecer, desço com o sol lá do açude do Calango e vejo sinais, avisos, minha cabeça gira como uma hélice, um ventilador a esbanjar textos e contextos, que sangram repletos, cheios de poesia, de versos simples, tecidos ali, a latejar o instante, o agora, o presente, a vida que sopra as letras e compõe as minhas memórias.
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A estrada da vida pode não ter tijolos alaranjados nem ladrilhados, e eu tenho (sim!) um coração bem varzeano, que é mais racional do que eu - selvagem -, que é mais eu do que eu. E o céu agora é o rio Joca, é lagoa comprida a espelhar o céu, a trazer o céu para o chão, e o Calango é refrigerante, desinfetante, analgésico para a alma, para amenizar a saudade que é do tamanho do mar. E o sol quando cai em mim não apaga as lembranças nem o açude. Tudo nessa vida se apaga: o fósforo, os amores. Mas, com certeza, esse amor não se apagará, é chama perene. Várzea é um Amor pra toda vida, um amor para viver, para recordar, um amor pra valer!
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Tantas e tantas voltas no mesmo lugar. O mundo pode ser de plástico, teu sorriso pode ser de plástico - eu desenho um mapa nas tuas costas e pronto: o mundo é tatuagem que carregas nas costas, nos ombros.
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Mas lá na minha Várzea é diferente. Lá as flores são de verdade. Flores nativas, com cheiros e cores vivas, aromas naturais, amores e perfumes em noites de luas não-artificiais, lá sim eu desenho um mapa nas tuas costas e pronto: o mapa da mina do meu tesouro está feito, está traçado. E tu, varzeano, carregas nos ombros o dom de seres filho da terra do mais belo pôr-de-sol. Ali o meu coração se preenche, ali não há lugar para estresse nem forma em que a tristeza possa se demorar.
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.Resta que se pare um instante, para ver, contemplar e se deliciar no alaranjado crepúsculo que desce só para te mostrar que a felicidade é coisa simples e pode está bem ali, ao alcance da tua mão, a tanger o sol que se deita no colo da nossa Várzea, no horizonte do açude do Calango, que não me deixa mentir!
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Beto Bello

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