A FESTA DO MILHO VERDE
A FESTA DO MILHO VERDE
Autor: Ludugero, 22/06/2009.
É mês de junho, o Vapor está em flor.
A chuva passou, fez-se verde o mato.
No roçado, se enramam jerimuns, melões, melancias e maxixes.
Nas espigas de milho fez-se o verde da beleza.
A safra, enfim chegou.
E trouxe de volta o verde da vida, trouxe a fartura.
Touxe de volta o sorriso nunca esquecido pela minha gente varzeana.
De tudo, sobrou nada pouco da riqueza que existe em cada um de nós,
A sempre verde esperança!
Afinal, é mês de junho e Várzea está em flor, em festança!
Não há vida e verde só no mato, mas as cercas vivas estão vivazes.
O açude do Calango, os barreiros, as cacimbas, tudo parece em êxtase!
Há um cheiro de mato verde, de ariscos de olhos d'água
Há um certo (en)cantamento de passarinhos
Que enchem o ar no seu esplendor, com maviosos cantos.
Os ares estão puros, com cheiros bons, com ruídos na beira do rio Joca!
Tudo exala um perfume dos deuses, soprando a favor da vida.
E ali está o milho verde, aos balaios, aos caçuás cheios espigas e mais espigas,
A provar sua resistência, firme e forte, no roçado, na mesa do varzeano.
O milho verde, milho em flor, milho de grãos dourados no corpo de bonecas loiras
De cabelos vermelhos, amarelos, escuros, grãos de ouro, caroços de milho,
A contrastar a fome, para matar a fome, enfim o milagre!
Eu vi, juro que vivi tudo isso, todo esse prazer, toda essa satisfação!
Eu vi minha avó Dalila a sorrir, a gradecer a Deus.
Eu vi meu pai Odilon a sorrir, a agradecer a Deus.
Eu vi minha mãe, dona Maria Dalva, a alimentar sua prole.
Eu vi os Marreiros, os Anacletos, os Bezerras, os Caicos, os Belos
A agradecer a Deus pela fartura, pelo milho nosso de cada dia!
Eu ouvi os gritos alegres de louvor
E gratidão dos filhos da minha Várzea!
E o aroma de milho verde invadiu as casas caiadas, seus móveis e utensílios,
E as casas simples mais pareciam sede da alegria, portas de entrada
E janelas pequenas, mas de enormes corações em seus interiores,
Casas abençoadas estampadas de imensa satisfação,
Além das paredes, além dos tetos, além do chão.
Meninos e meninas desfolham seus brinquedos, seus milhos verdes, suas espigas.
E se alastra um cheiro gostoso, forte, próximo, que vai longe,
De casa em casa, nos alpendres, nas fogueiras, nos braseiros.
Do milho faz-se a pamonha, a canjiquinha polvilhada de cravo e canela.
Lembro-me da festa que é, a feitura da pamonha,
Pamonha farta, grossa, com caroços inteiros, massa ralada,
Palha verde amarrada ao meio com embiras
Da própria palha do milho verde,
Fonte de vida, que dá gosto todos comerem,
Todos provarem deste sagrado manjar,
Divino banquete!
Todos varzeanos, homens, mulheres e meninos,
Aos magotes se fartam, por necessidade,
E celebram a mesa farta com arte.
E vencem a fome, com longa festa!
E todos entoam o que sabem cantar.
Contam estórias, riem,dormem
De barrigas cheias, de felicidade,
De vencer a fome, de poder sorrir
De poder dormir, de sonhar acordado!
Como é belo o milho!
Como é bonita a roça, belo quadro vivo.
Uma roça, um roçado inteiro de milho
Um milharal em flor!
Milho que nos dá espigas, grãos dourados, mil por um.
Milho que dá pamonha, canjica, pipoca
Que traz alegria, traz a vida
Vence a fome!
Que alegra as mesas da minha Várzea
Na sua simplicidade, na imensa felicidade
Da barriga cheia, às gaitadas!
E aquele magote de tantos meninos e meninas fracos, franzinos
Se fizeram fortes, destemidos, príncipes e princesas, reis e rainhas do milho
Que se fizeram homens de porte, de estirpe, de valor
Se fizeram mulheres de coragem, nunca frágeis,
De muita grandeza, no lado esquerdo do peito,
Heróis e heroínas do meu sagrado agreste
De São Pedro apóstolo.
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