TRILHAS VARZEANAS - VAMOS FAZER UMA CAMINHADA?
Autor: Ludugero, 1º de junho de 2009
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Eu sei que você sabe que caminhar faz bem ao coração, fortalece os ossos, dá mais vitalidade, diminui o estresse, combate a depressão e emagrece. E também sei que muitas vezes você quer caminhar, mas não tem tempo. Outras você tem tempo, mas não tem companhia. E quando você tem tempo e companhia, não tem forças. Mas não precisa ser sempre assim.
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Aproveite o dia de hoje para começar a mudar esse cenário, Várzea tem lugares ótimos para conhecer ou até para revisitá-los. Dê o primeiro passo pelas trilhas ecológicas varzeanas. Uma caminhada descontraída e agradável pelo açude do Calango e suas redondezas. Respire ar puro, vapor vital. Caminhe pelas estradas de chão, observe os caminhos, as laterais, as aves, os arbustos, as flores... Vá até o rio Joca. Molhe os pés. Sinta a terra, o ar puro, a paisagem.
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Aproveite o dia de hoje para observar as coisas do lugar, coisas que estão ao seu alcance, mas que estão ali e nunca foram vistas, de verdade, nem apreciadas, pois ninguém nunca pára para vê-las.
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Essas coisas geram imagens poéticas: elas têm o poder de ir lá no fundo da alma, onde moram os esquecimentos. Como esquecimento? o que ficou esquecido, o que ficou para trás? As coisas simples, o jeito simples de viver a vida, de forma despojada, sem muitas picuinhas.
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Chega um momento na vida da gente que é quando esses esquecimentos acordam e juntamente com eles a gente se belisca, sente que está vivo, a gente sente uma estremeção no corpo. A gente sente vontade de viver cada coisa, da forma mais simples possível, há uma necessidade que nos impulsiona a ir adiante e nos mostra que a felicidade começa nas coisas que temos ao alcance das mãos, apesar de tudo parecer pouco, mas é ali que está o segredo: na simplicidade das coisas que são nossas, mesmo parecendo pequenas.
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Eu acredito muito na força das palavras. E a minha poesia tem uma missão, sem pretensão nem demagogia, nem forçação de barra, apenas tento recuperar os pedaços perdidos de nós. Ultimamente, isso vem acontecendo comigo, é corrente essa vontade, esse anseio latente. Agora mesmo estou sendo visitado por uma imagem emissária do meu passado. Várzea me chega em imagens bonitas. Elas me aparecem e eu me comovo. Se me comovo é porque eu me pareço com elas. São imagens, retratos de um caminho. Haveria alguma razão para esse aparecimento? Acredito que sim.
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Olho para trás, olho para a frente... Vejo o meu caminho. Um caminho entrecortado por outros caminhos. Um caminho no meio da minha Várzea. Eu me assento na sala de estar, na minha casa aqui em Brasília, em plena Capital da República, bem no coração do Planalto Central do Brasil, e viajo em pensamentos, em caminhos que me levam a pensar. Pensar sobre a vida. Pensar sobre mim mesmo. Penso sobre o caminho que trilhei. Penso sobre o caminho que trilharei, depois das curvas que a vida nos apresenta, dia após dia. Sinto-me enlevado pelas palavras, viajo com elas, ao escrever os meus poemas.
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Eu sinto a paisagem, eu sinto a beleza de cada canto da cidade, cada encanto, eu fico olhando os caminhos, as trilhas, aonde chegam, ou que não levam a lugar nenhum, mas não fico triste, eu acredito no poder do andar, na força das pernas, na pisada, isso faz toda a diferença. Caminhar sozinho ou acompanhado, vale a pena ir, avançar.
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Agora me pego a matutar: Eu sempre fui um homem curioso. Sempre gostei de andanças, meu pai me levava a caminhar, por léguas e léguas a fio. E eu nem reclamava. Tinha sebo nas canelas. Nós preferíamos sempre as trilhas por onde poucos andavam. Também, desde menino eu amava estar sozinho. Gostava de ficar só com os meus pensamentos, com meus livros.
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Agora, lembro-me do casarão do Vapor. Eu gostava de ir para lá. Eu gostava de vasculhar os ambientes do velho casarão, os cômodos, a cisterna para armazenar água da chuva. Silenciosamente eu caminhava pelo corredor e alpendres, pelos quartos, atravessava e entrava num corredor que conduzia à enorme porta de entrada da casa, fechada com barras de ferro. Eu retirava as barras, abria as portas, as janelas, e saía.
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Saía para o sol. Dali eu observava a minha Várzea. Assentava-me então num banco e ficava ouvindo longamente o canto dos pássaros, dos canários da terra, dos galos de campina, sozinho. Dali dava para sentir o cheiro da casa de farinha, do curral, os aromas e os ruídos da terra. Eu sentia essas coisas, eu não apenas olhava por olhar, eu enxergava além, eu fotografava na memória, eu filmava tudo, de uma forma, inexplicável. Eu via o belo, a luz da simplicidade das coisas da vida. Acho que a gente nasce assim, é de nascença.
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E assim tem sido, esses cheiros, esses ruídos atravessam a minha vida, caminham comigo. E ainda continuam a me chamar: - Vem por aqui! estendendo-me os braços, e eu, seguro de que seria bom que eu os ouvisse, respondo: Eu vou, sim! Vou por onde me levam meus próprios passos... Eu vim ao mundo para desenhar meus pés nas areias do rio Joca. Tenho outros caminhos, outras estradas, outros jardins, outros canteiros, mas o mais que faço de nada valeria, não teria nenhuma valia, nenhum valor, se eu não tivesse a minha Várzea!
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Hoje, eu sei por onde vou, sei para onde vou. Eu já percebi uma coisa: Gosto de fazer o meu caminho, não vou pelos caminhos dos outros. Mas ao escrever eu não estaria convidando os que me lêem a seguir o meu caminho? Como se eu lhes dissesse: "Venham por aqui!" Não, não, não! Não quero transformar minhas caminhadas solitárias em procissões ou comícios. Mas quero acordar um alguém que seja, pelo menos um que seja, no intuito de começar uma caminhada, por uma Várzea que não é só minha. Essa cidade é nossa. Vale a pena vivê-la!
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Se os caminhos se fazem ao caminhar, cada um tem de fazer o seu próprio caminho. E se o caminho do corpo começa pelo caminho da alma, é preciso encontrar esse caminho. E aí logo poderá aparecer alguém descrente e afirmar: - É estranho, porque é um caminho que não leva a nada!
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Mas eu retruco, eu discordo, eu indago: E os cenários à beira do caminho, já pensou para olhar como são maravilhosos? Assim, só posso repetir um conselho que me foi repassado: "Todos os caminhos conduzem ao mesmo fim. Escolhe, portanto, o caminho do Amor".
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E, de tal sorte, persisto com as minhas andanças, não cruzo os braços ás adversidades, nem tenho medo das pedras do caminho. pois carrego comigo a certeza de quem acredita nos sonhos e na força do coração. Eu acredito na força da poesia, na palavra que (en)canta. Eu sigo acreditando na grandeza da minha Várzea, que me leva por caminhos repletos de esperança e simplicidade.
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Afinal, eu sou um varzeano-poeta-escritor, um ser humano que acredita que para ser sustentável é preciso caminhar, primeiramente, pelas trilhas do coração. Assim o caminho terá muito mais luz e nada passará sem ser visto, desde a beleza da flor até à necessidade do espinho.
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