PALADARES VARZEANOS
PALADARES VARZEANOS
Autor: João Ludugero, 09/09/2009.
Gostar de ti
Nunca me deu desgosto,
Eu gosto do gosto,
de gostar
de te ter sido
de te ter vestido,
de te ter bem vivido
de te ter em mim
revelado
enraigado,
varzeamado!
E como é bom o que sinto
O paladar, o que pressinto
Meu tatear num sonho eterno, já!
O estalar de um beijo,
Assim sem amarras nem cabresto.
E que me venhas provar,
Trazer-me na boca o mel
E um coração jamais escravizado,
a que me bem presto!
Eu simplesmente gosto do gosto
Do teu céu na minha boca
Gosto do gosto
Das maçãs do teu rosto, das romãs
Do caldo de cana-caiana que se derrama
Pelo teu corpo, nas águas da paixão,
Que flameja em flores de Maracujá
E degustar... E degustar... cada bom-bocado
Rasgar ao dente, morder tua nudez pagã, tua carne de caju.
A fruta mais exótica, gravatá!
És doce e ácida, mas nunca insossa e banal.
Se te provo ao natural, afoito, fico mudo.
És feito o ananás que me trava a língua, abacaxi
Que me sangra o lábio, mas que me seduz e cheira
Teu doce deleite me traz gostoso calafrio na espinha,
Eu me lambuzo em riachos de mel, me desnudo!
Aos ventos amenos e ariscos do Itapacurá
Na tarde saborosa de carinho e astúcia,
Tu me engoles, sem engasgo, madura pitomba.
Enquanto me enrosco, travo e falo tua língua!
Há de chegar o dia em que, inquieta,
bem-me-quererás
Me beber na fonte, num beijo
ardente me entornarás
Meu bem-querer,
Meu bem-te-vi rasante,
E com teu olho d'água vertente,
Me banharás nas águas do rio Joca
Que seja nas águas do Calango
Meu bálsamo afluente aos cântaros,
Me encantarás no açude,
Formando uma cacimba
De água doce, rasgada na areia,
A clarear meu rio barrento
e tenebroso de solidão!
Teu leito de águas salobras não me afogam,
Não me matam a sede,
Apenas mais me atiçam, me aceleram o pulso
Me fazem sonhar, sonhar acordado, sem pesar tê-la!
Não saciando minha vontade de me ater,
De ficar para sempre ao teu lado, sem receio,
Porque és meu doce apetite, meu devaneio
És meu pitéu, que me deixa a salivar, de fato
És minha pequena menina varzeana, real
Meu doce de leite,
Meu Vapor vital!
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