
VÁRZEA: DE ESPINHO E DE FLORES!
Autor: João Ludugero, 15/09/2009.
Vida de cacto, vida de espinho e flor,
Vida que brota da pedra, das lascas e seixos,
Vida que aponta na aridez do grande lajedo,
Acolho-te na palma da minha mão sensata, coroa,
Pois não tenho medo de espinhos nem de sangue,
Nem receio de me espetar em tuas pontiagudas agulhas.
Trago nas mãos abertas cicatrizes, marcas do tempo-frade,
Que não careço apagar, nem mesmo escondê-las,
Pois são meus impolutos troféus, de êxito, despidos,
São feridas que a bruma chora, na brisa da tarde amena,
Mas que formam assim um Calango cheio de lembranças,
Um açude que guardo dentro de mim, amiúde, na memória.
E somente o guardo para a hora das mãos vazias,
Em que a saudade chega e agita a alma da gente,
Sem alertas ou sobreavisos, sem gritos ou artemanhas,
Naquela certeza do estio, das horas vãs, vazias que chegam,
Em que o deserto é a saudade certa, desalento, cinzas,
na incerteza dos dias de demorada eclipse,
Desânimo que insiste em purgar pesadas almas,
Incautos crânios que persistem
Em apenas continuar a vegetar, sem nexo,
A duras penas, sem nenhuma sobriedade,
A pernoitar suas fuligens, a emperrar
Suas catracas sem dentes!
Existem as máquinas humanas, tão deletéreas,
Carcomidas pela ferrugem das horas,
Irremediavelmente, caídas em desuso,
Descomprometidas largadas ao vento do desencanto,
Sem nenhum compromisso com o bem viver a vida, de verdade,
Vida simples assim como aquela que a gente quer,
Que a gente bem denota no interior da minha Várzea,
Bem no cerne das coisas mais belas, de dentro.
Assim como a força que o Amor tira do improviso,
No âmago, eu bem-te-vejo,
Oh, minha amada Cidade da Cultura!
Contigo aprendi dentre tantas coisas,
também a gostar da natureza dos espinhos,
Pois a minha Várzea das Acácias traz de sempre
No sagrado solo seus cactos, suas flores, seus Amores!
Ali a gente ri, a gente chora e almeja,
Se se for preciso, podendo ser de dor
Ou até mesmo de alegria, de fato, que seja,
A gente aprende muito a lidar com isso,
A dar mais valia às coisas da vida, ao suor do batente,
A gostar ainda mais das nossas cicatrizes!
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