
VÁRZEA: O CAMINHO DAS PEDRAS E DOS SEIXOS
Autor: João Ludugero, 14/09/2009.
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Havia uma pedra no meio da rua da pedra
Um pequeno lajedo cinza escuro,
Uma pedra que deu nome à rua
Implodiram a pedra, ficou a nomenclatura
Rebatizaram a rua,
mas ainda manda a voz do povo.
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Seixos, pedras polidas, lisas
Pedra rolada, sem arestas,
porque arredondado pelo desgaste,
E que se encontram na beira dos caminhos,
Na beira do Calango
E nas margens e leito de rio Joca.
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Seixos, nome que também batizou um lugar,
Ali onde morava a saudosa dona Santina de Onélio,
Hoje, ali se vende galinha caipira, das boas,
Ali se delicia uma galinhada daquelas,
De mancheia, farofa, galinha torrada, deliciosa iguaria!
Tanto assim que sua fama já ultrapassou os limites da seara,
Propagou-se agreste afora, essa delícia!
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Pedra sobre pedra, areia, barro e piçarro
Fez-se o suado paredão do Calango.
Gosto de ver a lua toda nele refletida, nas águas verdes,
A lua a se banhar no açude, banho de lua.
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O vapor das águas ameniza o calor da tarde
Que a brisa perfuma e açoita pela Vargem afora,
Numa forma de abrandar, de amenizar que seja,
Numa prece a minha saudade atroz, pungente,
Num cofre de seda, que é meu coração varzeano,
E nele estão depositadas as minhas lembranças!
No lajedo a aresta, o cinza, o cacto e a flor.
Na pedra o lodo, o limo e a feitura da calçada;
No pavimento da rua os paralelepípedos,
Pedras cortadas uma a uma, aos cubos, frente e verso.
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E quanta gente boa já andou
Na superfície destas pedras ao sol!
Pioneiros da minha Várzea, com suor no rosto,
Heróis anônimos da minha Várzea,
Que já se foram embora, mas que construíram
Com pedras, coragem e alegria, sem medir esforços,
Os alicerces da nossa igreja de São Pedro,
Construídos com garra e fé santa, de fato,
Tudo edificado na pedra que fica além do tempo, com esmero.
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Várzea de fé, de tantos Pedros além do padroeiro,
Pedra da fé, pedra de Pedro, pau-pedra, pau-ferro,
Pedra por pedra, apesar dos pesados fardos,
O povo varzeano nunca cruzou os braços!
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Aprendemos a consagrar nosso credo, nossa fé,
Aprendemos a renovar nossas esperanças, velhas e novas.
Sem pressa, vamos ladrilhar nossa rua de sonhos e poesia,
dia após dia, o elemento, a rocha, vamos sedimentar o porvir.
E acreditar que poderemos fazer deste chão
O melhor lugar para se viver, nosso querido torrão. nossa Várzea!
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Aprendendo e ensinando o caminho das pedras, sem traumas,
Até que retornemos ao pó de onde viemos, dita certeza,
Sem passar em brancas pedras de cal e salitre,
Eis que estamos aqui para uma missão: Ser feliz!
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Depois de tudo, a única certeza que temos:
Nos desmancharemos no ar, sem remédio,
Sem nada levar, nem pedras, nem ganhos,
Seremos apenas pó, poeira e mais nada.
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