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NAU-RAZÃO

autor: João Ludugero
lembro-me muito bem
que a gente se caçava
em tantas coisas
que a gente se achava
meio que perdido
e a gente se desperdiçava
no porvir
no passatempo
a divagar
alheios pelo vão
das coisas desprezíveis,
meros entes
seres descartáveis,
seres humanos
que nada!

foi aí que me acertaste
em cheio, na mosca,
com um dardo
mais que certeiro
no alvo, no cerne, na carne
e assim se a briu o clarão, de fato
e tudo ganhou luz e cor
de tal sorte, não pretendo mais
chorar meu barco furado

deixe eu mergulhar
no teu mar
de coração aberto,

pois deixei de ser náufrago,
eis que me salvaste
nesta operação boca a boca

daí acreditei, de imediato

que havia uma saída, um beco
e acordei na tua cama, lúcido
e não mais precisei
de aspirina
nem de estricnina
e cortar os pulsos, nem pensar!

justo agora
que preciso de norte,
minha bússola, em desuso,
que já se encontrava viciada, não serve
vê se me empresta a tua,
a do teu coração, eu imploro
quiçá ele orientará minha nau-razão
e me levará à terra firme,
num preciso bote
do teu olhar,
tu que és minha
estrela da manhã,
dona do novo
tempo de despertar!
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João Maria Ludugero

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