GALOPE
Autor: João Ludugero
Cavalgo pela tarde na sela do destino
a tanger o gado que não possuo,
apenas imagino ao mirar a paisagem
e nela derramo meus olhos d'água
que acordam o Calango, açude
que sangra cheio de esperanças
Eu monto na garupa do cavalo, em pelo,
agarrado firme na cintura do tempo, eu me asseguro
boto fé nas rédeas imaginárias
que orientam minha cavalgada,
que dão norte ao meu coração galopante
pelos campos da minha Várzea,
sem me preocupar deveras com as esporas
que ganhei de legado, desnecessárias ao uso
Sei que é manso o puro-sangue que corre livre
e solto nos veios vertentes da vargem
sem cabrestos nem freios, além do capim grosso
além dos seixos do caminho, além das macambiras
e dos gravatás, muito além dos meus anseios
Na aba do meu chapéu corre um sol amarelo, radiante,
a disputar com o lenço dourado que enfeita o decote
da menina Tereza Gabriela.
Sigo o sol a pino, contente,
só no trotar do meu alazão.
Escuto o cantar da cigarra
que quebra o silêncio da estrada
que me leva ao interior, numa viagem
pela mata a dentro, onde o vento arisco se agita
com hálito de virgem, bafeja e ainda assobia,
frente a frente com o cio da terra prometida
E assim o dia termina, na garupa
do meu cavalo cor de canela
sigo apenas eu, desnudo,
nem cela desapeada, nem arreios
nem o carro encantado nem a lenda
da mulher que chora com a trouxa na cabeça
nem sentença de esporas, nem estribos, nem cancelas
Apenas eu, simplesmente, tal qual um índio,
um nativo a beber uma cuia de garapa
com seu cocar de penas, despreocupada a mente
a caçoar das horas, enquanto o alaranjado crepúsculo
cai no sono de Tereza Gabriela.
João Ludugerio, poeta, quando se faz as coisas tão bonitas, como vc faz, fica difícil achar adjetivos para elogiá-lo, sem cair no lugar comum. Lindo seu galope imaginário (tão real)... Adorei. Muito lindo.
ResponderExcluirDeixo-te um beijo!
E a certeza que vc é um varzeano muito amado.
Zezé.