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A DONA DA LENDA














Autor: João Ludugero

Eu vi aquela mulher chorando
eu a vi perambulando pela noite alta
levava consigo uma criança pela mão
e na cabeça uma trouxa de roupa
de cortar o coração, num dó danado,
dentro de mim eu vi aquela mulher chorando,
se debulhando em lágrimas
atravessando o beco de Seu Antonio Duaca
ou seria a Brasiliano Coelho?

A essas alturas da vida,
embalando meu poema quase triste,
procuro entender essa lenda varzeana,
como pudera aquela mulher morrer de fome
carregando um fardo tão pesado
suplicando água e pão,
a chorar suas agruras
pelas ruas da minha seara,
se aqui poderia manejar esse solo,
cavar seu sustento,
plantar a semente capaz de gerar frutos
com a força peculiar aos filhos da Várzea-mãe,
terra que nunca abandona suas crias
muito menos suas criaturas deixaria à míngua,
a chorar miserável destino, mendigar
à mercê da própria sorte, me diga?

Em defesa da terra,
como quem borda a sã existência,
já vislumbro outra mulher que chora.
Agora fora da lenda, outra mulher destemida,
que não manda recado,
que não cruza os braços às adversidades,
que ainda acredita,
uma nova varzeana,
não mais aquela mulher
de outrora, desiludida.

Essa nova mulher pode chorar, sim senhor,
mas não de fome, não fica prostrada,
pois ao sentir sede de lutar,
não pede esmolas nem migalhas,
avança corajosa e digna, batalha,
briga por uma Várzea melhor,
mais justa, mais humana, mais unida.
E, ao molhar seus olhos de felicidade,
adivinha o amor até num poema quase triste,
mas não emudece, não entrega os pontos.

Sim, eu vejo essa mulher de agora
que sobressai do teu ventre,
do teu vale fértil, minha Várzea-mãe!
Olha ela aí, sem medo do batente,
olha ela aí , sem medo de ser feliz!
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João Maria Ludugero

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3 comments:

  1. Eu sou escritora, moro em Viçosa-MG, sou formada em Letras, e adoro passear por blogs e outros sites coletivos que acho nas minhas incursões pela internet. Adoro os poemas publicados aqui no VTN, leio vcs sempre. Vou deixar meu comentário, pois cada comentário recebido corresponde a uma gota d'água, que juntas formam a grande rega que dia após dia, faz aumentar ainda mais os frutos desse blog de tão belas poesias. Serve como incentivo para o poeta continuar suas criações tão gostosas de ler e sentir.
    Que beleza de poema, é mais uma homenagem às mulheres. É um poema social,com gosto de vitória, de chamado para o bom combate,à luta. Lindo, lindo. Adorei.
    Abraços,
    Élida Noêmia Venceslau

    "A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido. Não na vitória propriamente dita". Mahatma Gandhi.

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  2. CaRO pOEta JoÃo de VárZeA,
    Sua poesia nos inspira a ser feliz!
    Muito linda. Obrigada, vc é incrível.
    Com carinho Maria José.

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  3. Várzea,terra de mulheres bonitas e felizes. Se choram, deve ser de alegria. Realmente a água de Várzea faz um bem danado à beleza!
    Gostei da poesia. Adoro esse blog. Valeu!
    Abraço,
    Hélio - Natal-RN

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