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CARNE VIVA (I)
















CARNE VIVA (I)
Autor: João Maria Ludugero

Nos tempos de vaca gorda,
Maria vai com as outras
Maria do bom pasto
Maria é mimosa, altiva,
Maria deleite, musa de elite
Do botox e do silicone,
Tem os peitos fartos
Em riste, é escolhida a dedo
E nem lhe olham os dentes.
Perfeita Maria da glória
É da vida vip que sorri para ela
Maria das mamatas
Dos programas da alta society.

Nos tempos de vaca magra,
Maria passa-fome
Maria desdentada,
Maria magricela
Maria oferecida,
Vai com qualquer um
O que chegar primeiro,
Não lhe resta escolha, não.
Maria não pode perder freguês
Cansada da lida, sonha mudar de vida,
A brega Maria há tempos ficou banguela,
Quase já não pode, mas aguenta, 
São ossos do ofício, a lida lhe suga,
Como largar o serviço, me diga,
Quem vai pagar suas contas,
Se não rodar a bolsa na rua?

Maria sem vergonha na cara
Já não se enxerga nem pensa,
Resignada, arrisca abrir as pernas.
Se não fizer a entrega da carne,
A vida lhe cobra sem demora,
A vida vem e confisca a sua!
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João Maria Ludugero

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