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REFÚGIO













REFÚGIO
Autor: João Maria Ludugero


Estou em Brasília,
Mas ainda me acolho, pai,
À sobra da tua gravioleira.
Aqui tenho ipês de toda cor,

Tenho também flamboyant
Da cor de brasa, cor de fogo,  
E outras patas de vaca
Que dão flores brancas e rosas.
Não tenho o Maracujá em rama,
Tenho quaresmeiras roxas
E um pôr de sol quase lilás,
Tão bonito quanto o crepúsculo daí, 
Tipo aquele que se faz 
De laranja a encarnado 
Quando a tarde cai lá
No açude do Calango.
O céu daqui é mais perto,
Tendo em vista que estamos
No Planalto Central do país.
Tenho saudades das duas palmeiras
Da catedral de São Pedro apóstolo
E do Vapor que, para mim,
Não envelheceu, apesar das ruínas
Do velho casarão assombrado.

Sei que, além das acácias,
Plantaram pelas ruas da Várzea
Copados ficus verdejantes.
Mas a frondosa algarobeira
Continua lá, maior ainda.
Sei que o fogão-a-lenha lá de casa

Rachou o barro, cheio de cinzas.
As jarras, tinas, potes e bilhas 

De armazenar água dos Ariscos
Caíaram em desuso,
Estão encostadas no puxado
Que foi feito na cozinha.
A água agora vem encanada da Una,
Lá das bandas da vizinha Espírito Santo.
O Cruzeiro, não me esqueço,
Foi preciso substituí-lo pelo velho modelo.
A saudade de tudo é grande.

E a dona Maria, a nossa mãe, 
Não está nem volta.
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João Maria Ludugero

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