VÁRZEA: MINHA VIDA RIBEIRINHA
Autor: João Maria Ludugero
Várzea em dia chuvoso
Vento uivante e frio,
Bate no rosto da gente
Chuva fina, chuvisco
O rio faz enchente,
Alaga a rua do arame
A Vargem inunda,
Transborda tanto
Até ficar bonita.
Agasalho macio,
Abraço de mãe
Me esquenta, me acolhe.
É manhãzinha, bem cedo.
Aroma de café invade o quarto,
Toma conta dos corredores, da sala,
Enche a casa toda de bem-estar
Café coado no saco de pano
Adoçado com rapadura, açúcar mascavo,
Bule de ágata na mesa farta,
Xícaras de Colorex do tempo da minha vó,
Chaleira de ferro a todo vapor
No ardente fogão-de-lenha
Bolachas secas, biscoitos
E outras regalias:
Pão de milho, cuscuz,
Coalhada com mel,
Queijo de coalho
Assado na brasa. Hummm!
- Cuidado, menino,
Não tomes chuva, meu filho!
Acabaste de tomar café quente.
Vê se não tomas golpe de vento,
Periga entortar a boca!
Grita de lá, minha mãe Maria.
De repente, pernas pra que as quero,
Lá estava o moleque a caminho do rio
Doido para um mergulho,
Nadar nas águas mansas
Junto com um magote de outros
Travessos meninos varzeanos,
Usando velhas câmaras-de-ar
Lá da oficina do ferro-velho
Do seu Antonio Abel 'Tonheiro'.
E o rio Joca nos leva a atravessar,
A boiar pelo aguaceiro a fora,
A girar nos redemoinhos até chegar
Na outra margem ou se maravilhar
Com a enchente ao chegar contente da vida
Na cachoeira dos Damas.
A gente boiava a vida
A gente era tão feliz e não sabia
Lavando a alma, levando a vida numa boa,
Nessa boa vida ribeirinha!
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