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BUMERANGUE


Autor: João Maria Ludugero

Quando tudo parece perdido,
Quando o caos tende a abrir-se
Quando o mundo extrapola sua órbita
E o túnel leva a crer que é findo o mundo.
Quando esse desvão não me dá chão,
Querendo esboroar-se em polvorosa
Na sede do chafurdo dos sapos,
Numa fonte de sobejante desleixo  
Em que se tira a água com a própria vasilha.
Mas não me desmantelo nesse fosso.
Pingo limão nas bandas da maçã
Só para não escurecer, dou rasteira na cobra,
Trepo no coqueiro feito um camaleão, me animo
E, se precisar de sustância, tiro tutano do osso buco.
Eu mesmo me furto beijos no espelho, 
Instilo meus venenos ao sol, sem vacilo,
Tudo isso sem bifurcar a língua.
 Mordendo-me para virar príncipe ou não,
Declaro-me rei do meu nariz. E pronto!
Logo, não mais me apoquento das ideias,
Eu me mexo, eu me bulo sem contra-indicação,
Eu me atiro nas letras, vice-versando eu vicejo.
Eu abro um livro como quem abre um telhado
E de dentro, do alto, arremesso sem vexame
Com toda força meu bumerangue encantado.
Me atrevo a cantigas dentro do furdunço,
Invento verdades com versos em desafio.
E, como num passe de mágica,
Ele retorna fosforescente.
'Oasis/meio-me'
E não me dano mais nas trevas.
Não faço fogo-fátuo nem fumaça de abano
 A pedir por socorro, nem tréguas,
Porque logo fico de cabeça feita
De POESIA, minha bandeira.
Dou nó em pingo d'água, sim, a léguas.
Afasto as miragens e as aporrinhações da lida.
Atravesso desertos a salivar,
Mas, de repente, mato minha sede
Em cântaros pujantes direto na fonte.
Eu me alinho, eu me empino, eu me arrimo
Eu me esbarro num novo horizonte.
Eu vou junto no andor das palavras
Eu prossigo esfomeado às bermas
Que me levam a detonar os diques
Que fecham as águas do caminho. 
Tenho sob meus pés descalços
Ruas com saídas, becos iluminados,
Não me contenho com entrelinhas e divagações.
Não me desmancho, tampouco me acabo
Ao esculpir o brilho que sofro pelo assédio das letras,
Apenas me reinvento mais forte, imune ao tédio,
A colorir tudo o que me toca.
Como se meus braços virassem asas,
Mas não para me atirar de prédios. 
E assim não desconverso e chego ao clarão:
É da POESIA que dou ao chão, firmamento.
E tudo o que dela me aproxima não me desterra.
É o que me salva pra contar a história.
Porque fazer POESIA não me expira,
É o que me basta sem devastação.
Em reprise digo, sem titubear, 
 Que é bumerangue meu poema:
Enquanto sobre meus ombros
Se lançam as dores do mundo contidas
Em boatos de que ele fosse acabar hoje,
No meu peito há uma reviravolta:
Um livramento, o renascer de um coração
Fazendo-me livre de correntes, de algemas,
Como se fosse um prisioneiro em liberdade,
Que retorna o sangue em refluxos
Que volta a encarnar cores vivas,
A afugentar dores íntimas há muito retidas,
Como se tudo retornasse
À mão do poeta-lançador...
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João Maria Ludugero

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