Olha o caranguejo!
Meninos, eu vi seu Antonio Lunga passar
pelas quatro bocas de Várzea, na lida,
empunhando cordas de caranguejos
que trazia do mangue de Arês
ou de Baía Formosa.
Catava na cama larga do habitat,
onde havia tanto caranguejo arisco.
Sempre ele me contava
como fazia para apanhar o bicho:
desbravando o mangue,
embrenhando-se na lama,
destemido, enfiava a mão no barro,
no vai-e-vem da maré,
cuidava com esmero da vida
que sustém o mangue,
sem atrapalhar ciclo algum.
E sempre trazia farta a panela,
dava tanto gosto de ver
a minha avó Dalila agarrada
nas patolas tão carnudas
de uçá e goiamum.
Quem nunca se deliciou
com os pratos feitos
à base dos frutos do mangue,
caranguejos e goiamuns cevados,
servidos fervidos na água e sal,
com coentro e cebolinha ou com pirão
ou, ainda ao molho de coco
e outros poucos temperos
que não podem faltar
no preparo dessa iguaria?
Hoje, a mão do homem
devasta, soterra o mangue.
Ecossistema à deriva,
implorando por socorro.
Pouco caranguejo em corda
carregado pela devastação.
E o gostoso caranguejo,
assim tão ameaçado, corre o risco
de só existir naquela foto encardida
de algum turista de outrora.
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