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Jovem diz ter sido discriminado em supermercado de Natal por ser gay

No VNT do Novo Jornal - 17/06/2016
Imagine você chegar ao caixa de um supermercado e ser acusado de ter consumido um produto dentro da loja sem ter intenção de pagar! Imagine ainda um grupo de funcionários reforçando que viram você cometer o delito, alegando, inclusive, haver imagens de câmeras que supostamente comprovariam o roubo! Para quem jura que nada disso é verdade, a situação é no mínimo constrangedora e revoltante, certo? Pois foi isso mesmo que aconteceu com o estudante de Ciências Sociais da UFRN, Maxwell Freitas, 19 anos, no último domingo (12), no Carrefour da Zona Sul de Natal. O jovem é negro e assumidamente homossexual. E as supostas imagens que os funcionários citaram jamais foram apresentadas ao acusado ou à polícia.

Acompanhado da mãe, Maxwell procurou a delegacia de polícia na última quarta-feira para formalizar o Boletim de Ocorrência  (B.O). Ele também pretende abrir processo contra a empresa. No mesmo dia que sofreu o constrangimento, usou seu perfil no Facebook para denunciar o ocorrido. O NOVO quis ouvir a história e marcou uma entrevista no pátio do estacionamento do supermercado, local que diariamente é frequentado por centenas de pessoas. Contudo, a equipe foi abordada por um segurança, que não permitiu que a entrevista fosse realizada ali, informando ser preciso ter autorização da direção do empreendimento. A conversa com a reportagem, naturalmente, continuou fora do estabelecimento.

Ao NOVO, ele contou sua versão. Disse que estava com nove pessoas no pátio do estacionamento e decidiu entrar na loja com quatro amigos para comprar lanche, não percebendo que uma funcionária, sem crachá de identificação, acompanhou discretamente o grupo pelos corredores da loja. "Foi um dos meus amigos que notou, mas só me falou depois. Ele pensava que fosse procedimento normal e, como não estávamos fazendo nada de errado, nem ligou", relata.

Ele conta que dois amigos passaram suas respectivas compras no caixa e, ao chegar sua vez, a moça que o  seguia fez a abordagem, mostrando-lhe um saco de salgadinhos Ruffles vazio e afirmando que o viu comer e largar a embalagem na prateleira. "Ela perguntou: 'quem é que vai pagar por isso? Eu vi você comendo e deixando a embalagem lá'", relembra. 

Não adiantou argumentar que não havia consumido o produto e que por isso não pagaria, assim como não demorou a aparecer outro funcionário, identificado no crachá pelo nome de Thiago. "Esse foi ainda mais grosseiro e disse que tinha imagens das câmeras da loja. Desafiei a mostrarem as imagens porque sabia que não tinha como haver imagens do que eu não fiz e ele respondeu que só mostraria à polícia", conta.

A essa altura, segundo ele, um segurança já se juntara ao grupo de funcionários e discutia com os amigos de Maxwell, que tentavam defendê-lo. Já eram quatro funcionários acusando-o. "Até que outra funcionária apareceu, cochichou algo no ouvido do Thiago e ele se voltou pra mim e disse que eu estava com sorte porque 'iam me liberar assim mesmo'", conta Maxwell. 

O tumulto  chamou a atenção dos outros clientes. "Foram dez minutos de constrangimento e humilhação. Era um domingo, tinha muita gente na loja e fui acusado de algo que não fiz e liberado ironicamente porque disseram que eu estava 'com sorte'. Como sorte? Eu não tinha feito nada", questiona.

Depois de relatar o que sofreu, sua postagem na rede social foi curtida no mesmo dia por mais de 1.500 pessoas e compartilhada mais de 200 vezes, com mais de 50 comentários, inclusive relatos de outras situações constrangedoras vivenciadas naquele estabelecimento.

Rapaz diz sofrer preconceito contra sua orientação sexual 

Maxwell Freitas não tem dúvida de que a amarga experiência que vivenciou se trata de um caso típico de preconceito contra sua orientação sexual. Além disso, supõe que houve uma tentativa de afastar ele e seu grupo das dependências do estabelecimento. Ele é gay e estava com amigos igualmente homossexuais. Filho de uma mulher negra, o jovem conta que costuma frequentar o pátio do estacionamento da loja, local que tornou-se um ponto de encontros de amigos e casais homossexuais ou heterossexuais, que todas as noites estão no local.

A área também é frequentada por pessoas para caminhadas e usada como encontros de clubes de carros antigos, motoqueiros, patinação e até por quem gosta de fotografar, já que, de lá, tem-se uma vista privilegiada do bairro de Mirassol, da Praça da Árvore, BR 101 e shoppings. O local é movimentado, abriga também uma academia e possui diversas paradas de ônibus nas proximidades. Nem tudo, porém, transcorre dentro da harmonia, segundo afirma.

“Sempre ocorrem aqui casos de perseguições contra homossexuais que frequentam o local, mas ninguém denuncia. Ninguém fala e continua acontecendo”, ressalta o rapaz. Ele acha que pelo fato de ser jovem e estar com um grupo de jovens, ser gay e fugir do padrão social, pode ter provocado o comportamento politicamente incorreto por parte dos funcionários do supermercado. “Creio que tentaram nos intimidar para que não voltássemos mais aqui”, avalia.

O “fora do padrão” a que ele se refere deve-se ao fato de não esconder a orientação sexual que há três anos defende publicamente. “Uso a estética para expressar o que sou e que não vou mudar por haver pessoas que não me aceitam. É uma forma de eu dizer que existo, sou capaz e que estou aqui. O preconceito existe. A sociedade é preconceituosa. São olhares desconfiados quando passo, risos, gargalhadas e até insultos e ofensas.”, desabafa. Ele diz que decidiu expor o ocorrido para que situações dessa natureza não voltem a acontecer e que aqueles que passam por vexame semelhante possam também correr atrás de seus direitos.

Empresa alega respeitar os seus clientes

Apesar de não apresentar as supostas imagens para comprovar a acusação que os funcionários dispararam contra o jovem negro e gay, a rede Carrefour/Brasil de Supermercados respondeu em nota aos questionamentos do NOVO. Disse que assim que tomou conhecimento do relato do cliente, iniciou uma rigorosa apuração interna junto à equipe da unidade zona Sul/Natal e entrou em contrato com Maxwell Freitas, informando-lhe sobre o trabalho de averiguação em curso.

“A empresa reforça ainda o seu compromisso com a qualidade dos serviços prestados, com o respeito aos seus clientes e com a apuração dos fatos para a adoção de corretas providências”, disse em nota.

Maxwell confirma que a coordenadoria de relacionamento da rede telefonou para ele e questionou se algum funcionário o tocou fisicamente, se usaram palavras que tenham conotação de preconceito, homofobia ou discriminação racial e quis saber se ele havia falado com alguém (imprensa) ou procurado a delegacia, pedindo-lhe também uma cópia do Boletim de Ocorrências (B.O).

“No mais, disseram que eu não precisava mais tomar nenhuma medida porque o que ocorreu foi uma questão de mau atendimento, que seria resolvido entre eles, uma vez que a empresa apoia a diversidade e orienta seus funcionários a tratarem todos os clientes de forma igualitária, sem preconceitos. Para mim, pareceu que a empresa está mais preocupada em evitar repercussão negativa e quer esconder que houve um caso de homofobia”, diz.

 Ele registrou queixa na polícia contra os funcionários da empresa, a quem acusa de calúnia, e pretende mover processo por danos morais. O procedimento foi feito na companhia de sua mãe. “Tive medo de eu não ser levado a sério na delegacia porque sei que a palavra de outra pessoa tem mais força do que a minha por eu ser jovem e gay”, conclui.
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