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Família do Potiguar Gil ainda luta por indenização um ano após tragédia da Chape

No VNT do Saiba Mais - 29 NOV 2017
Um ano depois da tragédia de Medellín, a família do ex-jogador Gil ainda aguarda o recebimento de indenizações judiciais em função do acidente aéreo. Única vítima potiguar do desastre, o ex-camisa 8 da Chapecoense endossa a lista de 71 mortos decorrentes da queda do avião da empresa boliviana LaMia, ocorrida em novembro de 2016.

Gil foi titular durante a histórica campanha que levou o time de Chapecó, cidade do oeste de Santa Catarina, à inédita final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional, da Colômbia. O trágico acidente aconteceu antes do primeiro jogo do torneio continental. A Chapecoense foi declarada campeã da competição.

Natural do município de Nova Cruz, região Agreste do Rio Grande do Norte, o ex-jogador deixou duas filhas e esposa, que dependiam da renda do patriarca da família. A mulher de Gil, Valdécia Paiva, de 26 anos, foi a primeira viúva a impetrar ação na Justiça do Trabalho contra a Chapecoense, em março deste ano. Ela alega que o marido morreu durante o desempenho de sua atividade profissional, o que se configura em acidente de trabalho.

O processo contra o clube catarinense tramita na 1º Vara Trabalhista de Chapecó e está em segredo de Justiça. Segundo Marcel Camilo, advogado e ex-procurador de Gil, uma nova audiência sobre o caso deve ocorrer nas próximas semanas. Valdécia cobra integralização da remuneração do marido, danos morais e lucro cessante, referente à expectativa de vida profissional interrompida pela morte.

Até o momento, segundo a viúva, a família do ex-jogador teve direito apenas às apólices referentes aos seguros pagos pela Confederação Brasileira de Futebol (correspondente a 12 salários) e pela seguradora contratada pela Chapecoense (28 salários). Valdécia contesta os valores, uma vez que os seguros levam em consideração para o pagamento apenas os salários firmados em Carteira de Trabalho. No meio do futebol é comum que os honorários dos atletas sejam rateados entre CLT e Direitos de Imagem, que muitas vezes corresponde a maior parcela dos vencimentos.

– Em relação às indenizações, ainda não recebemos nada da Chapecoense. É uma situação muito triste porque o Gil morreu representando o clube. Acredito que falta respeito dos atuais dirigentes da Chapecoense com as famílias das vítimas do acidente.

Após o desastre aéreo, Valdécia retornou a Natal e hoje mora com as duas filhas em um apartamento na zona Sul da cidade. O imóvel foi comprado por Gil antes do acidente. Segundo a viúva, o ex-volante visitou o apartamento poucas vezes e pensava em utilizá-lo para passar as férias de fim de ano, quando poderia ficar mais próximo da família que reside em Nova Cruz, distante apenas 90 quilômetros da capital.

– Acho que o Gil só veio aqui umas duas vezes. Planejávamos passar as férias do ano passado aqui no apartamento, com as nossas famílias.
Valdécia leva uma vida discreta. Ela continua pagando uma “mesada” aos pais de Gil, assim como o ex-jogador fazia quando atuava. Atualmente, a viúva concilia as atividades domésticas com a faculdade de Direito, cursada em uma universidade particular. Ela pretende utilizar os aprendizados da graduação como defesa própria diante do processo enfrentado contra a Chapecoense e também para ajudar pessoas que se deparam com problemas judiciais semelhantes.

– Cursei odontologia logo quando casei com Gil, mas acabei largando o curso por causa da gravidez da minha primeira filha. Fiquei um período sem estudar e, depois que voltei a Natal, decidi estudar Direito.

Tanto no condomínio onde mora quanto na faculdade, Valdécia conta que poucos conhecem a sua história. Ela mesma faz pouca questão de ser rotulada como esposa de uma das vítimas do acidente da Chapecoense. Da lembrança dos bons momentos com o marido jogador de futebol, a única aparente é um cordão que ela carrega no pescoço com o seu nome e o de Gil cravados. A viúva também dispensa roupas de luxo e acessórios chamativos, além de usar uma maquiagem discreta.

Ela conta que “os piores dias são aqueles em que me sinto bonita”, mas tenta evitar o sentimento de luto eterno.

– Tenho consciência que Gil está morto. Vivemos ótimos momentos juntos, aproveitei cada instante do nosso relacionamento, mas sei que ele não voltará. Evito ficar triste quando estou com as minhas filhas, para que elas não fiquem abatidas, e tento seguir a vida. Um dia Deus nos colocará juntos novamente”.

As filhas de Gil e Valdécia têm cinco e três anos. Ambas foram comunicadas da morte do pai pela própria mãe. Tanto as meninas quanto a mãe recebem atendimento psicológico desde a queda do avião da Chapecoense.

– Os dias mais tristes para nós são as datas comemorativas. Dia dos pais, Natal, ano novo… sempre acabamos chorando muito porque Gil faz muita falta.

Da relação com a Chapecoense sobrou decepção e mágoa
Valdécia Paiva não esconde a mágoa com a atual gestão da Chapecoense. Para ela, “a Chapecoense não existe mais”. Pelo menos em termos de cuidado com os familiares dos ex-jogadores do clube.

A decepção com os atuais dirigentes da equipe catarinense surgiu logo nos primeiros meses após o acidente. A viúva relata que as famílias das vítimas ficaram desamparadas pelos cartolas do clube que, segundo ela, estavam mais preocupados em reconstruir o time dentro de campo.

A Chapecoense, por sua vez, alega que já cumpriu com as devidas indenizações. Na semana passada, às vésperas da tragédia de Medellín completar um ano, advogados das vítimas e do clube participaram de uma audiência em Florianópolis. A Chapecoense apresentou documentos junto à justiça boliviana sobre o andamento das investigações contra a LaMia.

A apuração do caso está sendo tocado pelas justiças brasileira, colombiana e boliviana, em três ações distintas. Enclaves envolvendo as diferentes legislações dos países travam o andamento das investigações, que por ora ainda não apresentaram culpados. A Chapecoense, de acordo com o Ministério Público brasileiro, não teve culpa no acidente, uma vez que confiou a execução da viagem à LaMia.

Um dos vértices da investigação apura quem são os verdadeiros donos da empresa aérea LaMia. O Ministério Público boliviano suspeita que políticos venezuelanos possam ter participação nas ações da prestadora de serviços aéreos. Até então, acreditava-se que o único dono da LaMia era o piloto da aeronave que levava a Chapecoense. Ele não resistiu ao acidente.

– Não guardo raiva de ninguém, mas quero que a Justiça seja feita e os responsáveis pelo acidente paguem pelo que fizeram. Não cabe a mim apontar quem tem culpa pelo acidente, mas espero que o caso continue sendo investigado e se chegue a uma solução.

O acidente
Uma pane seca – termo utilizado na aviação para acidentes provocados por ausência de combustível – teria provocado a queda do voo 2933 da LaMia. O avião que transportava a delegação da Chapecoense (jogadores, comissão técnica e diretoria), jornalistas e tripulantes desapareceu dos radares por volta das 21h58 (horário da Colômbia) do dia 28 de novembro – 2h58, pelo horário brasileiro, do dia 29 de novembro.

Ao todo, 77 pessoas estavam a bordo do voo. Destas, apenas seis pessoas foram resgatadas com vida, sendo três atletas da Chapecoense, um jornalista e dois tripulantes. Entre os mortos estão o volante Cléber Santana (ex-Atlético de Madrid), o atacante Bruno Rangel (maior artilheiro da história da Chapecoense), o técnico Caio Júnior, o ex-jogador Mário Sérgio (então comentarista da Fox Sports) e o jornalista Victorino Chermont (repórter da Fox Sports).

Gil vestiu a camisa de 10 clubes e nunca atuou no futebol potiguar

A Chapecoense foi o décimo clube da carreira de José Gildeixon Clemente de Paiva. Antes de desembarcar no clube catarinense, em 2015, o ex-jogador passou pelas categorias de base da URT (MG), do Mogi Mirim (SP) e Santa Cruz (PE) antes de se profissionalizar no Mogi, onde atuou durante as temporadas de 2006 e 2007.

Após se destacar pelo clube alvirrubro do interior de São Paulo, Gil se transferiu para o Guaratinguetá (SP). Pelo Guará, disputou duas edições do Campeonato Paulista: 2008 e 2009. As boas atuações renderam uma transferência para o Vitória (BA) ainda durante a temporada de 2009. A passagem pelo rubro-negro baiano foi discreta e o volante pouco teve espaço na equipe, trocando-a no início de 2010 pelo Santo André (SP).

Foi com a camisa do time da Grande São Paulo que Gil conseguiu se projetar nacionalmente. Volante titular da equipe comandada por Sérgio Soares, Gil conquistou o vice-campeonato paulista com o Santo André. O clube perdeu a decisão do estadual para o Santos de Neymar, Robinho e Ganso. O jogador potiguar foi encarregado da missão de segurar o trio e, apesar da derrota, fez dois grandes jogos na final do campeonato.

As boas atuações despertaram atenção da Ponte Preta (SP). Gil deixou o Santo André após o término do Paulistão e mudou-se para Campinas. O volante teve dificuldade para se adaptar à Macaca e acabou negociado durante a temporada 2011. O Coritiba (PR) seria o seu próximo destino.

Na capital paranaense, Gil reencontrou o futebol. Foram cinco temporadas defendendo o clube do Alto da Glória. Pelo Coritiba, o potiguar atuou como primeiro volante, segundo homem do meio de campo, armador e lateral-direito. Pela versatilidade e entrega dentro de campo, Gil acabou conquistando o carinho da torcida e os títulos de campeão paranaense nos anos de 2012 e 2013. No início de 2015, ele foi emprestado para a Chapecoense.

A mudança de ares fez bem para Gil. Em Chapecó, ele teve mais espaço para jogar e tornou-se titular absoluto, além de incorporar o espírito de raça do time catarinense. Foram 80 partidas disputadas pela Chapecoense e cinco gols marcados, o último deles na vitória por 3 a 0 sobre o Junior Barranquilla, pelas quartas de final da Sul-Americana de 2016. Além do título póstumo da Sul-Americana, Gil também conquistou o Campeonato Catarinense pela Chape.
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