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MC Du Black: quem é o carioca do funk ousado 'Gaiola é o troco', música mais tocada no Brasil

No VNT do G1 - 28 OUT 2019
MC Du Black — Foto: Divulgação

MC Du Black é a cara do novo funk brasileiro. Carlos Eduardo da Silva Batista Leite, carioca de 24 anos, canta "Gaiola é o troco", que chegou ao 1º lugar no Spotify no Brasil há um mês. Neymar, Anitta e Gabigol já postaram vídeos curtindo a música, que segue no topo ou entre as primeiras da parada diária.

O funk chega a 2020 em ritmo frenético, mas também com suavidade.
A cena se volta de novo ao Rio, mas viaja pelo Brasil.
O clima é festeiro e também de resistência. O Baile da Gaiola, mesmo suspenso, é símbolo disso.
Ele é conectado - nas novas redes sociais, na EDM... - e não filtra letras sobre sexo.

Serralheria, igreja e pagode
Em julho de 2019, Du Black ainda trabalhava como serralheiro no Jardim América, Zona Norte do Rio. No tempo livre, tentava a sorte na música. Alguns anos antes, ele começou a compor e aprendeu a tocar na igreja, por influência do irmão mais velho.

"Minha mãe é técnica de enfermagem, trabalha em posto de saúde, servidora pública. Criou a gente sozinha. Eu e meu irmão trabalhávamos para ajudar. Meu irmão foi como um pai para mim, eu fazia tudo que ele fazia. Quando ele parou com a banda da igreja, me distanciei também", conta.

Du também é fã dos pagodeiros cariocas do Imaginasamba e do paulista Thiaguinho. Chegou a ter uma banda de pagode e abrir shows no Rio. Em "Gaiola é o troco", dá até para ouvir um toque melódico desses estilos com o qual ele já se envolveu. Mas a base é o funk 150 bpm.

Eletrônico, acelerado e... suave?
O chamado ritmo louco, que ganhou o Rio e o Brasil ao aumentar o número de batidas por minutos do funk, ganha suavidade na voz de Du Black.

Ele explora uma abertura dessa levada acelerada: dá para cantar rápido, acompanhando o beat, mas também encaixar um canto melódico e suave na metade do tempo. É como se a música estivesse em 75 batidas por minuto, não em 150. Os MCs podem alternar essa dinâmica.

"A primeira parte é muito cantada. Nos meus shows o público acompanha muito o canto desse começo. Depois, todo mundo dança..." Du Black descreve o contraste. Ele vê também o funk incorporando outros estilos. O DJ 2F coloca um pouco de música eletrônica - tendência que cresce em hits do funk-rave.

O que é Lomotif?
Já dava para ouvir o estilo melódico e ousado na parceria anterior de Du Black e 2F, "Sem se apegar". Eles tentavam emplacar com ajuda de um empresário veterano do funk do Rio, Timbé.

O som estava redondo, mas o dinheiro para tocar a carreira tinha acabado. "Gaiola é o troco" era a última chance, conta Du Black. "A gente estava sem investimento na carreira e resolvemos jogar na fé".
A música até foi bem quando entrou em um canal do YouTube popular no funk do Rio, "R10 O Pinta". "Saiu em maio e teve 200 mil views rápido, mas aí ficou congelada, não passava disso", lembra Du Black.

Foi quando rolou um milagre digital. Nessa época começou a bombar um aplicativo criado em Singapura chamado Lomotif. É um editor que cria vídeos a partir de fotos do celular, com trilha sonora. "Gaiola é o troco" começou a ser usada como trilha de usuários brasileiros com poses no estilo "dar o troco no ex".

Com o Lomotif a música viralizou entre famosos e anônimos. Du Black até gravou uma versão "light", sem os termos sexuais da letra. Mas, como a maioria dos hits atuais, o sucesso se espalha na letra original mesmo. Du Black considera que tentar amenizar a linguagem "prejudica o sentido".

Gaiola é uma ideia
O Baile da Gaiola, citado no título e no refrão, era até o começo de 2019 a festa mais popular do estilo no Rio, e ajudou a espalhar o funk 150 bpm. O baile foi suspenso em fevereiro, depois de operações policiais com tiros, feridos e correria. Moradores reclamaram de truculência da polícia.

E isso foi antes de o DJ Rennan da Penha, criador do baile, ser preso por uma acusação de associação com o tráfico. Rennan nega a acusação e Du considera injusta. "Continuo cantando sobre a Gaiola, apesar de não estar acontecendo", diz, "porque ali não é só tráfico, tem o funk para se dançar se divertir".

"Acho que o governo atual vê muito a favela como foco do problema. Mas não tentam criar algum projeto de mostrar para a favela alguma coisa que dê para fazer ali e levar para fora", diz o MC. "Acaba com uma coisa que é sustento de vida dos moradores", ele diz sobre o trabalho e a renda gerados nos bailes.

"A prisão do Rennan fez a gente ficar bastante recuado, pensando: por que o governo está fazendo isso? O que a gente faz de mal com o funk? Mas também deixou a gente disposto, porque o funk vai continuar. Está todo mundo seguindo, funk não eh crime, DJ não é criminoso, a gente é artista de rua", diz.

Perdidos no Espaço Favela
Ao mesmo tempo em que "Gaiola é o troco" chegava ao 1º lugar, acontecia o Rock in Rio 2019. O festival criou um Espaço Favela, teve show de funk com orquestra e Anitta no palco principal. Mas o funkeiro carioca com a música mais tocada do Brasil no período do evento nem pisou na Cidade do Rock.

"Eu sonhei com uma proposta de ir lá, mas nem fiquei chateado de não acontecer. Recebi um vídeo da música tocando no Espaço Favela e senti uma alegria tremenda. A 'Gaiola é o troco' é uma música que não vai passar de uma hora por outra. Vou ter essa oportunidade", diz.

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