Coronavírus — Foto: Reprodução/TV Globo |
Quase 40% das pessoas infectadas pelo coronavírus no Rio Grande do Norte não souberam que estavam com o vírus ou não tiveram a infecção confirmada por exame. Foi o que apontou o comitê científico estadual nesta sexta-feira (12) durante apresentação do resultado do inquérito sorológico realizado em oito municípios do estado que sediam as unidades regionais de saúde.
O inquérito, realizado em janeiro deste ano, estima que 230 mil pessoas no estado foram infectadas pelo coronavírus durante a pandemia, cerca de 6,5% da população total. Apesar disso, o boletim epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) do dia 30 de janeiro apontava que o estado tinha 140.032 infectados, cerca de 90 mil a menos (39,13% do total) do que a estimativa do estudo.
Esse percentual representa uma fatia de pessoas que contraíram o vírus, mas não realizaram exames, porque eram assintomáticas e não sabiam que haviam sido infectadas ou porque apresentaram sintomas leves e também foram testadas.
"Uma primeira implicação que esse inquérito traz é exatamente a quantidade de pessoas que a gente não consegue detectar pelo sistema. Em janeiro, o dado do boletim epidemiológico da Sesap apontava 140 mil pessoas que foram infectadas. E no inquérito, nós encontramos 230 mil", reforçou Ângelo Roncalli, pesquisador da UFRN que participou do inquérito.
"Uma implicação importante é que essas pessoas estão transmitindo a doença. E boa parte delas nem sabe. Boa parte era assintomática ou teve sintomas leves".
O pesquisador explica que esse número possivelmente ainda não consegue abranger todo o cenário de contaminados, já que muitos não têm mais os anticorpos detectáveis no organismo.
"Provavelmente esse número está subestimado. É preciso lembrar que nós estamos fazendo esse inquérito sorológico um ano depois da pandemia. Então é provável que tenha tido pessoas que foram infectadas ainda no começo, em março, abril e que já não são mais detectáveis, não aparecem mais no exame. Então são mais de 230 mil", diz.
As maiores prevalências, segundo o estudo, foram nos municípios de Pau dos Ferros (12,7%), na Região do Alto Oeste potiguar, e Caicó (12,3%), no Seridó. Em São José de Mipibu, esta taxa chegou a 5,3%.
Em relação aos grupos etários, as maiores prevalências estavam nas pessoas acima de 45 anos. Mas um outro grupo surpreendeu: o de crianças até 9 anos de idade, que teve 6,92% dos testados infectados.
"Chama a atenção essa faixa etária, de crianças. Você tem aí uma prevalência ligeiramente acima da média do estado, de crianças que tiveram contato com o vírus", falou Álvaro Roncalli.
A menor prevalência esteve nas faixas etárias de 18 a 24 anos, com 4,5%. A a maior foi em pessoas de 70 anos ou mais (8,1%).
Com relação ao sexo, as prevalências são praticamente iguais. Em relação à raça/cor autorreferida, a prevalência em negros foi de 6,9% e em brancos de em 5,6%. Os mais infectados foram os que relataram contatos tanto com suspeitos quanto com confirmados.
A pesquisa apontou ainda que 12,7% dos testados que não adotaram distanciamento social foram infectados, número maior do que os que adotaram isolamento social parcial ou integral (7,2%). “Esse dado aponta para a importância e eficácia do distanciamento social”, afirmou Roncalli.
Inquérito sorológico
O inquérito sorológico teve como finalidade mapear o comportamento da Covid-19 em todas as regiões do estado. A pesquisa foi feita pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap) em parceria com o Instituto Amostragem do estado do Piauí.
Foram elaboradas entrevistas e testes de Covid-19 em oito municípios: Pau dos Ferros, Mossoró, Assu, Natal, João Câmara, São José do Mipibu, Santa Cruz e Caicó.
Para cada município, vinte entrevistadores e pesquisadores fizeram a aplicação de um questionário com perguntas referentes a sintomas, estado de saúde, idade, comorbidades, entre outras questões importantes para embasar a pesquisa.
Ao todo foram 160 pesquisadores em campo. Em cada município, cerca de 2.500 pessoas foram testadas e entrevistadas. No total, 20.234 pessoas no estado fizeram parte do estudo. A coleta de dados foi feita ao longo do mês de janeiro de 2021.
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