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A Casa de Farinha

A CASA DE FARINHA
Autor: João Maria Ludugero da Silva
(17/11/2008)

Do alpendre lá da casa do Vapor
Via-se o milharal e o açude.
Ali a natureza regava de verde a vida
Que escorria para Várzea,
Uma bela vista da outra margem do rio.
A gente se contentava com a beleza
daquele lugar, com seus gansos e pavões.
Tudo era lindo e cheirava muito bom,
Tinha aroma, tinha o cheiro da terra.
E o jardim era repleto de cravos, laranjeiras e limão.
Sem contar com a plantação de sisal que dá fibras.
Tudo bem cuidado pelas mãos de dona Lourdes,
Que deixava aquele casarão mais formoso,
com seus vasos de telhas acimentadas
Todos cheios de flores à sombra das algarobas,
dos pés de cajá e frondosas mangueiras.
Ela regava tudo com água armazenada
da chuva, água de cisterna.
O Vapor tinha uma casa de farinha.
As descascadeiras de mandioca ensaiavam cantigas
Que fazia o tempo ser sentido, sem cair no vazio, noite a dentro.
Aquele lugar cheio de mistério não cansava aquela gente,
Que insistia em cantar, a fazer o trabalho, a farinhada.
Como algo sagrado, a encher a alma de calor, de aroma
de tapiocas de coco, de beijus e grudes em folhas de bananeira.
Do alpendre, a gente podia sentir o tempo...
Mas como sentir o tempo?
Mediante seus cheiros, suas cores, seus vapores, seus fumos.
Tudo permeado pelo verdes juazeiros a testemunhar o canto solenede
pintassilgos, bem-te-vis e galos-de-campina,
Sem esquecer dos canários de chão e outros bichos.
Que maravilha! Que encanto de lugar.
O tempo apaga quase tudo. Sabia?
Mas a fazenda do Vapor continua lá.
Dá para sentir o tempo e seus vapores.
Seus cheiros, seus sabores, suas lendas.
Vapor vigilante e a cidade à frente, um lugar.
Um lugar para não esquecer chamado Várzea.
Uma saudade e seus resíduos.
Pernoite na casa de farinha,
dali se podia ver o carro encantado, ao longe e perto,
Aparecendo e desaparecendo, assombração.
Tempos vividos dali do alpendre.
Uma saudade que se adensa no peito da gente,
Fazendo pó, polvilho e goma.
Apertando a massa da mandioca, a prensa
O tempo dava mesmo para ser sentido.
Tecido, guardado no coração
Tempo: manipueira e cinzas, ao vento.


Texto de João Maria Ludugero para o VNT Online, em 17/11/2008.
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Beto Bello

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