CHUVA DE SÃO PEDRO

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CHUVA DE SÃO PEDRO
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Autor: Ludugero, 05/12/2009.

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A chuva cai na minha Várzea

até parece que São Pedro abriu

todas as cortinas do céu

chove há muito tempo

a água lava as pedras as ruas

a água lava tudo, quase tudo

a água só não lava a língua

de determinadas pessoas...

Essas águas são as mesmas

que molharam Frei Damião

que molharam o véu da minha avó Dalila

quando voltava da missa aos domingos

é a mesma que se derramou sobre meu pai

e que sobre o pai dele choveu.

Chove, chove, chove

molha o azul da igreja toda azul

molha torre, sino e chaves

molha o chaveiro do céu

molha as palmeiras e a praça

molha a alma da gente

molha o jardim e os pardais

molha as enxadas e as foices

molha as portas e janelas,

molha as Ninas e as meninas

molha as Joanas e as joaninhas,

os Mulatos e os Bandeiras, molha a Nuca de Célia

molha João, molha Maria, molha Cíceros

molha os Belos, molha os Marreiros,

os Caicos, os Anacletos, os Coelhos e os Oliveiras

molha as Rosas, os Florêncios e os Pegados

molha água abençoada, chove chuva

molha os Riachos do Mel

molha toda minha gente!

Eis a chuva que se procura

para voltar a chover, chover,

chover, sem trégua

lá no campo, no arado

onde caem os raios e os coriscos

cai a a chuva, perene e indiferente à aridez

à secura que dentro de mim possa haver.

O céu todo relampeja,

cai a chuva e o trovão

a água que choveu sempre

e que daqui a tempos

sobre o meu filho choverá,

apesar de outros janeiros

valha-me Deus!

Cai a chuva, molha tudo

molha os bois, molha o jequi,

molha o parque e a vaqueijada,

molha a terra, enche os açudes

ela cai e molha a rede onde se deita meu filho

constante e alheia às estiagens da alma dele,

chovendo tanta e tanto,

quanto choveu sobre minha avó Dalila

sobre meu tio Joaquim Pacheco

sobre meu pai Odilon

sobre a minha mãe Maria

e sobre mim.

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VNT Online, postado em 20/02/2009