MENINA DO RIO JOCA

MENINA DO RIO JOCA

Autor: Ludugero, 09/02/2009.

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Hoje estou pássaro que traz a chuva,

chuva de lembranças.

A ave me alcança com apelos singelos.

Eureca, eureca!

Quanto mais me acho mais me perco

não seguro em tuas tranças

eu me abalo, eu me atiro, eu-martírio

Embalado em plena rua dos baleiros

fico criança de novo a jogar bolas de gude

erro o alvo, miro o sol, sinto vertigem

enquanto isso vou dormir com a meia lua, inteiro

eu me rendo ao espaço do pássaro de tranças

em plena na rua Dom Joaquim de Almeida.

Não tenho o dom de me encontrar tão cedo

portanto, atiro garrafas de náufrago

na enchente do rio da minha Várzea.

Eu tive ali um amor que ficou na rua no tempo

um fruto que despontou feito maturi

na ponta do galho, caju indeciso.

Esse fruto - O que estava por ser, porvir

precisava da chuva e da brisa da tarde

carecia do pôr-de-sol lá do Calango

precisava de chuva para se tornar doce

caju sem travo, mas seu umbigo caiu na hora errada

cajuzinho espatifou-se por entre a folhagem do outono

a essência da fruta se perdeu no meio do mato.

Lá na beira do rio tem uma cruz amarrada de arame

o rio me traz lembranças de um amor que dói.

Dói e requer energia, confluência de sóis,

de anzóis atados ao cordão da melancolia.

E aí vem a tarde que cai vazia, sem ti,

mas não te esvazias em mim...

os seus anzóis fisgaram a essência do ouro,

numa bateia de açude, de memórias que se perderam

na rua Dinarte Mariz nas ruas por onde andei

E ser - apenas ser - dói, corrói demais

Daí porque ali tudo é incerto e impreciso.

Nenhuma certeza tive da menina de trança

que descalça dança pela rua das pedras,

esculpindo seu rosto de pedra,

se fechando num coração de pedra,

tal qual uma esfinge, um presente de grego.

Quem garante que não se transformou

numa estátua a se saturar na rua da saudade

em plena rua da matança?

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VNT Online, postado em 02/03/2009