
SANHAÇO QUE NÃO SONHA SÓ
Autor: Ludugero, 23/06/2009.
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Sou varzeano
Sou um pacato cidadão
De um agreste cultivado, fértil
Sou potiguar, sou poeta
Que sabe um pouco temperar o solo,
Furtar-lhe a aridez, dar-lhe húmus,
Que nutre o terreno com palavras e senso,
Dando-lhes ou furtando-lhes, no bom sentido
Signo e significado, motivo e cerne.
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Sou poeta que lavra a lavoura, a roça, o roçado
Fazendo seus versos simples, livres e soltos,
Quiçá imaculados, hialinos
Feitos água pura de cacimba
Lá do Joca, meu rio de água salobra,
Com um gosto assim de lágrimas
Que insistem em se debulhar do meu olhar
De saudade da minha Várzea das acácias.
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Só quero fazer um verso simples assim
que devore a noite, madrugada a dentro,
Feito a esgrima de uma rima,
Lá na praça do Encontro ou
No Recanto do Luar sob a luz da lua.
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Pretendo fazer um verso, que até pelo avesso,
Abra-me as portas e as cancelas
E prossiga ao balanço da dança do vento
A esvoaçar as duas palmeiras
Da matriz de São Pedro apóstolo,
E siga verso afoito a chancelar sua sina,
A entoar uma canção de Amor, viva cantiga,
Ou que possa lançar luz sobre a cegueira
Nossa de todo amanhecer
E que descubra o legítimo valor
Do que é bem viver de verdade a vida
E o que vivê-la com simplicidade
Na Cidade da Felicidade!
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Quero pincelar em palavras, em verbos,
A distinta manhã varzeana e seus tons,
Afável senhora dos sons, melodia de pássaros,
Revoada de pardais e andorinhas,
Ao badalar das horas no sino da igreja azul.
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Eu bem-te-vejo, meu bem-te-vi,
Porque ao passar por ti, querido pássaro,
nunca mais me perdi, nessa travessia,
Nunca mais fiquei sorumbático,
tal qual aquele sebite baleado
ou talvez aquele sanhaço,
passarinho que sonhava só.
Agora não mais canto a tristeza,
pois não mais sonho sozinho.
Acabei de atar seu coração a outro,
Desatando de vez o nó cego da solidão atroz.
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De tal sorte, aprendi a enxergar melhor
O que eu já via toda manhãzinha, mas sem ver,
Que a gente nasce para ser feliz, sendo o que é,
Basta aprender a ver o sol mais amarelo
E o seu céu mais azulzinho!
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Resta não apenas olhar, por olhar,
Mas querer ver de verdade, a olho nu,
De fato, que a vida tem a cor que a gente quiser.
E que as flores estão ali na margem do caminho,
Pena que muitos não consigam ver que a beleza está
Bem ali, pertinho de nós, na maneira acreditar,
De olhar mais para dentro, ou ao redor
Bem no interior da nossa Várzea,
Que ela foi feita de um tamanho que cabe
Inteirinha no enorme coração da gente!
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