Autor: LUDUGERO, 30/09/2009.
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O sol já desponta nas quatro bocas,
A lampejar as gotas d'água nas folhas
Das plantas do jardim da igreja
O orvalho da noite se derramou
Pela Praça do Encontro...
A verde algarobeira até parece
Dar bom dia ao magote de meninos
Que jogam bola de frente à escola
Dom Joaquim de Almeida.
O carro-de-boi já cortou a grande rua
Coronel José Lúcio Ribeiro.
Mugem os bois de passagem,
fuçando o capim que insiste em nascer
Por entre os paralelepípedos
do calçamento, nas entranhas das pedras.
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Seu Nilton de dona Clarice, direto do arisco
Toca seus bois mameluco e assum-preto
Que obedientes atravessam a rua da pedra
Transportando fardos de farinha de mandioca
A ser entregue para a mercearia de Seu Olival
E são recepcionados por dona Penha,
Que desde cedo madrugou na venda
Das batatas-doces e das macaxeiras
Vindas do paul lá do Retiro;
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Dona Albanita de Seu Arnor Coelho
Já distribuiu os litros de leite 'in natura'
E acabou de emborcar latões e leiteiras
No jirau do quintal da sua casa
Ali na esquina da Travessa Brasiliano Coelho,
Enquanto solene o vento açoita as palmeiras
Que beijam o azul do céu de São Pedro.
O vento uiva e assobia, assopra forte
Pelos quatro cantos da minha cidade
da simplicidade, meu solo sagrado
Terra de mulher bonita, menina faceira
Que mais parece um "pitéu" sob o plácido olhar
Do ilustre pioneiro da panificação varzeana,
Seu Nenê Tomaz de Lima.
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Minha saudade invade o peito
E eu viajo nos tempos de outrora,
E acordo hoje, no presente,
Meu grito se corta no gume
De um ávido e ácido lume, a saudade,
Que latente insiste percorre terra-a-dentro:
Becos, rostos bronzeados, peles bonitas
Casas simples, muros caiados
E janelas abertas, coração aberto!
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Fora de mim, logo, logo, lacrimejo
Porque um homem também chora.
Não me socorro nesses becos,
Se estou longe da minha Várzea,
A saudade me dilacera o peito,
A vista embaça, tudo se atrapalha,
Sinto-me perdido, não acho chão,
Morro feito semente em solo seco.
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