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MEMÓRIAS DO RIO JOCA

autor: João Ludugero

gosto de olhar o rio Joca
eu me acho satisfeito em pisar na sua areia
descalço, aprecio a beleza do riacho da cruz
atravesso o leito raso e me sento na margem
a ruminar feito bicho que matou a sede
bem ali no rio de Nozinho,
ali no encontro das águas salobras
ali a ver a paisagem,
do coqueiral ao Vapor

escolho os lugares onde o silêncio
faz-me pensar, redescobrir o sentido da vida
ali naquela areia branca, fina
onde insistem em nascer
canapu e melancias-de-praia

passo a conhecer mais de mim mesmo
é como aprender a ver só agora o belo
que sempre esteve ali no agreste
mas que nunca tive tempo
para contemplar essa beleza,
os lugares onde o silêncio
toca fundo na alma da gente,
potável silêncio puro, branco

cristalino silêncio
que cheio de saudade
se derrama no meu peito
e não termina de bater no coração
e não tem jeito, apanho-me a  chorar
ao lembrar das lavadeiras de sol a sol

da  roupa a quarar pelas pedras, a clarear
nos arames farpados das cercas
brancas almas estendidas no varal
na brancura dos lençóis
espalhados rio afora

lembro-me da inesquecível dona Zidora
a cantar, a cavar cacimbas
nas ribanceiras do Joca,
a pitar seu cachimbo de fumo de rolo
enquanto a gente rolava no lodo
no escorrego das pedras do rio,
rio que deu margem para fazer nascer
esse cantinho abençoado
que chamaram de Várzea

varzeano solo fértil
que apesar da seca verde
faz a gente ter orgulho
de atirar maduras sementes
que certamente germinarão
sob os auspícios de São Pedro apóstolo
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João Maria Ludugero

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