S. PEDRO, DE COSTAS PARA A RUA DO ARAME?
autor: João Ludugero
na rua São Pedro atravesso becos
que vão dar na rua do arame,
ali onde ficava a casinha de taipa
da minha avó Dalila Ludugero
ali onde morava dona Neda
ali onde ficava a bodega de Seu Zé Anjo,
onde a gente comprava puxa-puxa
e quebra-queixo de coco queimado
São Pedro está lá no topo da igreja,
dizem as más línguas, de costas
para a rua do arame, não importa a ironia,
eu continuo enluarado de lembranças,
do tempo em que a gente pensava como criança
ou acreditava que a vida era rica de "marré-de-si"
e que o anel que ela nos desse era de ouro
que aquela rua simples era toda ladrilhada de brilhantes
que o nosso diamante era pra sempre, eterna a nossa alegria,
e a gente fazia do dia-a-dia uma ciranda dos contentes
ali mesmo na rua do arame, gente humilde,
que tem a bênção do apóstolo padroeiro, sempre,
pois ele protege a todo varzeano, de frente e versos,
seja bacurau ou corujão, ele une até os avessos
na cor maciça do pacato encanto
que faz a minha gente tão hospitaleira
E a gente brincava de girar a roda do tempo,
mirava o sol pela cerne das cantigas,
as meninas pulavam corda, pimentinhas,
e nós jogávamos bola no campo improvisado da rua de Lucila
a gente tinha o condão de acreditar que um dia a sorte chegaria
a gente era simplesmente feliz ali na rua do arame
o tempo passou, a rua ficou, o sonho não acabou...
apesar de que Magnólia de Antonio Horácio
foi embora pro Rio de Janeiro e nunca mais voltou;
dona Alice de Abílio foi morar no reino das maravilhas
e até dona Maria de Seu Odilon já foi morar com Deus
mas São Pedro continua lá com seu reinado
e, com certeza, mesmo de costas, ele olha por todos nós,
sem distinção, até pelo avesso ele tem as chaves
que abrem as portas desse chão varzeamado, de fé e poesia!
às vezes entro na casa das lembranças,
preso por um fio, presente-passado, inspiro-me,
durmo então melhor, acordo feliz da vida, resignado,
porque o que amo nem mesmo o silêncio vai me fazer calar,
porque eu tenho as minhas raízes fincadas ali
eu tenho histórias para contar,
que não têm hora para acabar,
pois sou poeta e ainda acredito na força do sonho
acordado, ainda sou aquele eterno menino varzeano
cheio de memórias, que ama de paixão sua Várzea das Acácias!
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