Autor: João Maria Ludugero
Se avexes não, ó moleque,
Comas logo esse pirão.Num reclames da sorte,
Passes sebo nas canelas,
Corras lá pelas capoeiras,
Rezes e agradeças a São Pedro.
Esse é o pão que se tem pra hoje,
É o que sustenta meu povo
Seja cabra da peste, mulher de fibra,
Seja cabra-macho ou fêmea
Seja lá o que for,
Tem que levar fé em Deus,
Mas comer o pão que o diabo amassou.
Minha Várzea é rica dessas coisas!
E ainda se conta com o ovo
No fiofó da galinha caipira
Que vigora ali no agreste.
Há quem diga, sem pensar
Ou tem um pensar torto,
Que a minha casa fica lá
Nos cafundós da caatinga,
No arisco fiofó do mundo,
Onde Judas perdeu as botas.
Mas com toda modéstia,
Sem vaidade alguma,
Em verdade lhe asseguro:
Ali minha gente vivedeira agrestina
Não se queixa de ter só isso,
Apesar dos descasos e desvios políticos
E das mamatas dos 'filhos da outra mãe'.
Eita que terra boa da mulinga!
Lá se pode chorar ou sorrir de contente,
Porque apesar de todas pobrezinhas,
A gente põe mais água no feijão,
Se vira de lado e de banda,
Fisga curimatã, muçum
E de quebra, muitas piabas.
E até mama, mas naqueloutras tetas
Das vacas mochas e das cabritas,
Faz a franga à cabidela,
Ensopado ao molho pardo,
Capricha no feijão de corda e nas favas,
Mistura tudo com farinha pra render,
Faz aquele incrementado baião
De dois ou mais pitéus,
E de sobremesa come tascos de rapadura,
O que dá uma sustância danada
Pra seguir na lida, na labuta
Pra trepar no coqueiro catolé
Pra contar o causo dando espaço ao tempo
Ao desapear da sela na garupa da égua,
Na catraca das horas pendentes dos estribos,
No galopar dos cascos incansáveis
da minha potranca chamada vida.
Quem sabe,sabe...grande poesia! Gostei muito.
ResponderExcluir