A moça se debruça
no parapeito da janela,
fita o horizonte escarlate
e se embevece de sonhos,
destramela promessas e anéis,
guarda sedas, meias e traças,
se veste e se enfeita de tranças,
sem uso, esquecida no caritó,
coleciona riscos imaginários
e ainda mais se tranca em frascos
de perfumes guardados intactos, invicta,
rente à visão da velha ponte
que emenda a solidão da rua,
procurando chegar a lugar nenhum,
escrevendo cartas sem destinatário,
afastando indizíveis desejos.
refazendo promessas a Santo Antônio,
que permanece de cabeça pra baixo
enfiado num pote de água benta...
E a moça se ajeita na janela às escâncaras,
balançando bruscamente os brincos
na esperança de ser vista bela
usando um pingente de lua
com seu nome gravado
como que a reluzir o vazio
da multidão que anda só,
orando pelas quatro bocas,
cortando impulsos aos punhos,
mais turbando dissabores
onde nuvens carneirinhos se esfiapam
num vai-e-vem de acordes,
num vapor de fim de tarde
e no lampejo-norma habitual
onde sobeja a solidão dos nichos.
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