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Em Alcaçuz, no RN das 22 vítimas do massacre identificadas, treze sangraram até a morte

No VNT do NOVO Jornal - 29/01/2017
Willian Anden Santos de Souza foi encontrado já sem vida, próximo ao muro do presídio e com seu corpo envolto em arame farpado. O laudo cadavérico é bem claro quanto à causa de sua morte: “anemia aguda devido a ferimentos de tórax e região cervical devido a ação pérfuro-cortante”. 

Traduzindo o laudo do médico legista do Instituto Técnico-científico de Perícia do Rio Grande do Norte (Itep-RN), Willian sangrou até a morte após ser violentamente atingido na região do peito e do pescoço. O documento não diz, mas provavelmente ele foi golpeado por uma espécie de facão ou instrumento cortante.

O jovem natalense de 21 anos é um dos 26 mortos registrados na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, Região Metropolitana de Natal, após uma rebelião que começou no último dia 14 e durou mais de dez dias. Willian cumpria pena em regime fechado por roubo, contando ainda com um processo em andamento relativo a um homicídio.

A maneira brutal pelo qual o jovem perdeu a vida não foi a única a ser registrada em Alcaçuz. Na verdade, o local foi tomado por uma carnificina nunca vista antes no sistema prisional potiguar. Decapitações, esquartejamentos, corpos carbonizados foram deixados para trás à medida que a rebelião tomava conta do presídio.

Os relatos dos peritos, policiais e agentes são de membros humanos espalhados por toda parte e o chão da penitenciária tingido de vermelho. Pelo menos 26 homens foram brutalmente assassinados em uma guerra travada entre duas facções: o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Sindicato do Crime do RN.

Até o momento, 22 das vítimas foram identificadas pelo Itep-RN. O NOVO teve acesso aos laudos que indicam as causas de cada uma das mortes ocorridas em Alcaçuz no massacre. Muitos sangraram até morrer, como Willian, principalmente em decorrência de degolamentos.

Pelo menos treze detentos morreram com anemia aguda, o que indica que sangraram até a morte. Também há registro de disparos de armas de fogo caseiras, utilizadas pelos presos do PCC, que arquitetaram os assassinatos dos membros do Sindicato. As facções, inimigas declaradas, compartilham Alcaçuz.

Homens foram tratados como animais, abatidos um a um e desmembrados. Segundo o diretor geral do Itep, Marcos Brandão, vários foram encontrados sem cabeça. “Quinze corpos foram encontrados decapitados e quatro deles foram completados. Ou seja, 11 ainda estão sem cabeças”, relatou.

Carlos Cleyton Paixão da Silva, 31, foi um dos decapitados. Condenado por tráfico de drogas, ele foi encontrado em frente ao Pavilhão 4. As vítimas se dividiram entre esse pavilhão e o 3. Ao todo, 14 presos foram localizados pelos peritos no Pavilhão 4 e quatro na lateral do Pavilhão 3. Nesta ala, inclusive, foram recolhidos três corpos ainda não identificados. Esses presos morreram carbonizados, o que dificulta o trabalho do Itep.

Sem poder verificar as impressões digitais ou a arcada dentária, a opção é o exame de DNA, que deve ser feito em um laboratório em Salvador, Bahia. Dois presos perderam a vida após serem atingidos por disparos de armas de fogo.

Jefferson Pedroza Cardoso, 21, e George Santos de Lima Júnior, 22, são essas vítimas. O laudo da dupla atesta que foram atingidos no tórax e no abdômen. “Causa da morte: anemia aguda devido hemorragia interna, devido a ferimento de vasos e vísceras torácica e abdominal, produzidos por projéteis de arma de fogo tipo balim”, afirma o laudo.

Em entrevista à reportagem, o diretor geral do Itep, Marcos Brandão, garante que os disparos não vieram de armas de agentes penitenciários ou guariteiros. A perícia constatou que partiram de armas caseiras que estavam na posse dos próprios detentos de Alcaçuz.

Trabalho de identificação do Itep deve evoluir em março

 Alcaçuz ainda não foram identificados. Três deles estão carbonizados. O Instituto Técnico-científico de Perícia (Itep) ainda têm em sua posse uma mão e três cabeças, recolhidas no último dia 19 em uma varredura feita em parte da unidade prisional. Ainda não se sabe a quem pertencem esses membros, segundo informou o diretor geral do órgão pericial, Marcos Brandão.

Ele afirma ao NOVO que somente entre o final de fevereiro ou no decorrer de março é que o órgão terá mais condições de fazer a identificação de cada membro e juntar a seus respectivos corpos. Nessa perspectiva, não se sabe ainda se há ou não mais corpos não encontrados em Alcaçuz. “A partir de março, mais ou menos, vamos começar a ter condições de concluir todo o trabalho [de identificação]”, comentou Brandão.

O diretor geral do Itep explica que o órgão está com dificuldades em relação às análises de DNA necessárias para identificar corpos e partes de corpo recolhidas até o momento. O Estado não conta com um laboratório de DNA, por isso as amostras são enviadas até um estabelecimento pericial em Salvador.

O problema é que os peritos precisam viajar para a capital baiana para fazer as análises. No momento, no entanto, não há como enviar os servidores por falta de dinheiro para as diárias. Brandão destaca que somente no final de fevereiro é que o Itep terá recursos em caixa para as viagens. Até lá, o diretor explica que as amostras estão sendo cadastradas, uma a uma, para facilitar o trabalho pericial futuramente.

Maioria dos mortos na chacina era de Natal e desempregada

enitenciária de Alcaçuz, a maioria era de Natal: doze deles. Quando se detalha ainda mais do perfil das vítimas, verifica-se que oito delas moravam na Zona Norte antes da prisão. Outros três eram moradores da Zona Oeste e um da Leste. Aliás, o bairro que mais aparece nos documentos periciais do Itep, no qual o NOVO teve acesso, é o de Nossa Senhora da Apresentação, na Zona Norte.

As vítimas que não eram de Natal se dividiam basicamente na Região Metropolitana. Um preso era de Parnamirim, um de São Gonçalo do Amarante, um de Monte Alegre, um de Taipu, um de Santa Cruz e mais um de Arez. O restante dos mortos não possui informações quanto a naturalidade ou endereço nos seus laudos.

Mais de 80% das vítimas também constam como desempregadas ou “sem profissão”. Os laudos indicam que 11 estavam sem emprego e sete sequer possuíam profissão, quando foram para o sistema carcerário. Dentre os assassinados, dois eram serventes de pedreiro e um era pintor.

A média de idade das vítimas conhecidas é de 28 anos. O mais velho a morrer no massacre de Alcaçuz tinha 42 anos de idade. Trata-se de Francisco Adriano Morais dos Santos. Preso por homicídio, ele foi mais um dos encontrados nas imediações do Pavilhão 4 da unidade. Morreu por “choque politraumático”, provocado por um objeto cortante e de maneira contundente, conforme relatou o médico legista que analisou o corpo.

Se Francisco foi o mais velho da chacina, os mais jovens a morrer brutalmente tinham apenas 21 anos. Um deles foi Anderson Mateus Félix dos Santos. Ele morreu por “esgorjamento” – um corte causado na parte da frente do pescoço. Jefferson Pedroza Cardoso e Willian Anden Santos de Souza, mortos devido anemia aguda provocada por objetos cortantes, são os outros dois que completam a lista dos mais novos do massacre.

Perfil dos mortos no massacre

- 26 mortos
- 4 sem identificação
- 15 decapitados
- 3 carbonizados
- 13 apresentavam anemia aguda
- 14 foram achados no Pavilhão 4
- 4 foram achados no Pavilhão 3
- 12 eram residentes de Natal
- 28 anos era a média de idade
- Mais velho a morrer: 42 anos
- 21 anos era a menor idade dos que foram mortos
- 18 eram desempregados ou “sem profissão”


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